ASSIM FALOU ALLAN
KARDEC
"O direito de exame e de crítica é um direito imprescritível, ao qual o Espiritismo não tem a pretensão de se subtrair (...) Cada um, pois, está livre para aprová-lo ou rejeitá-lo; mas ainda seria necessário discuti-lo com conhecimento de causa; ora, a crítica não tem, senão muito freqüentemente, provado a sua ignorância quanto aos princípios mais elementares do Espiritismo, fazendo-lhe dizer, precisamente, ao contrário do que ele diz, atribuindo-lhe o que ele nega, confundindo-o com as imitações grosseiras e burlescas do charlatanismo...
"O objeto desta curta notícia não é o de refutar todas as falsas alegações dirigidas contra o Espiritismo, nem de desenvolvê-lo ou provar todos os seus princípios, e ainda menos, procurar converter, às suas idéias, aqueles que professam opiniões contrárias, mas de dizer, em algumas palavras, o que é e o que não é, o que admite e o que reprova.
"Suas crenças, suas tendências e seu objetivo se resumem nas proposições seguintes: 1º - O elemento espiritual e o elemento material são os dois princípios, as duas forças vivas da Natureza, completando-se uma pela outra (...) O Espiritismo tem por objeto o estudo do elemento espiritual em suas relações com o elemento material e encontra na união desses dois princípios, a razão de uma multidão de fatos até então inexplicados.
"O Espiritismo caminha de acordo com a ciência no terreno da matéria: admite todas as verdades que ela constata; mas, onde se detêm as investigações da ciência, o Espiritismo prossegue no terreno da espiritualidade...
"2º - Sendo o elemento espiritual um estado ativo da Natureza, os fenômenos que se ligam a ele estão submetidos a leis, e, por isso mesmo, tão naturais quanto aqueles que têm sua fonte na matéria neutra...
"O Espiritismo não é nem uma concepção pessoal, nem o resultado de um sistema preconcebido. É a resultante de milhares de observações feitas em todos os pontos do globo e que convergiram para o centro que as coligiu e coordenou. Todos esses princípios constituintes, sem exceção, são deduzidos da experiência. A experiência sempre precedeu a teoria...
"O Espiritismo é uma doutrina filosófica que tem conseqüências religiosas, como toda doutrina espiritualista; por isso mesmo toca forçosamente às bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura; mas não é uma religião constituída, tendo em vista que não tem nem culto, nem rito, nem templo, e que, entre seus adeptos, nenhum tomou ou recebeu o título de sacerdote ou de sumo-sacerdote. Essas qualificações são pura invenção da crítica. A pessoa é espírita somente porque simpatiza com os princípios da doutrina e com ela conforma a sua conduta. É uma opinião, como outra qualquer, que cada um deve ter o direito de professar, como se tem o de ser judeu, católico, protestante, fourierísta, sansimonista, voltairiano, cartesiano, deísta e mesmo materialista.
"O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como um direito natural; reclama-a para os seus, como para todo o mundo. Respeita todas as convicções sinceras e pede para si a reciprocidade...
"Conseqüente com seus princípios, o Espiritismo não se impõe a ninguém; quer ser aceito livremente e por convicção. Expõe suas doutrinas e recebe aqueles que vêm a ele voluntariamente.
"Não procura desviar ninguém de suas convicções religiosas; não se dirige àqueles que têm uma fé e a quem essa fé basta, mas àqueles que, não estando satisfeitos com aquilo que se lhe deu, procuram alguma coisa melhor. ("Obras Póstumas", págs. 257 a 261 da 19ª edição da FEB)