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ASSIM FALOU ALLAN KARDEC

     (Sobre a missão dos profetas)

     “Atribui-se, comumente aos profetas o dom de adivinhar o futuro, de sorte que as palavras profecia e predição se tornaram sinônimas. No sentido evangélico, o vocábulo profeta tem mais extensa significação. Diz-se de todo enviado de Deus com a missão de instruir os homens e lhes revelar as coisas ocultas e os mistérios da vida espiritual. Pode, pois, um homem ser profeta, sem fazer predições. Aquela era a idéia dos judeus, ao tempo de Jesus. Daí vem que, quando o levaram à presença do sumo-sacerdote Caifás, os escribas e os anciães, reunidos, lhe cuspiram no rosto, lhe deram socos e bofetadas, dizendo: ‘ – Cristo, profetiza para nós e dize quem foi que te bateu’.

     “Entretanto, deu-se o caso de haver profetas que tiveram a presciência do futuro, quer por intuição, quer por providencial revelação, a fim de transmitirem avisos aos homens. Tendo-se realizado os acontecimentos preditos, o dom de predizer o futuro foi considerado como um dos atributos da qualidade de profeta “  (E.S.E. XXI, n.4).

     “Em todos os tempos, homens houve que exploraram, em proveito de suas ambições, de seus interesses e do seu anseio de dominação, certos conhecimentos que possuíam, a fim de alcançarem o prestígio de um pseudopoder sobre-humano, ou de uma pretendida missão divina. São esses os falsos Cristos e os falsos profetas” (ibidem, nº 5).

     “O Espiritismo revela outra categoria bem mais perigosa de falsos Cristos e de falsos profetas, que se encontram, não entre os homens, mas entre os desencarnados: a dos Espíritos enganadores, hipócritas, orgulhosos e pseudo-sábios, que passaram da Terra para a erraticidade, e tomam nomes venerados para, sob a máscara de que se cobrem, facilitarem a aceitação das mais singulares e absurdas idéias...” (íbidem, nº 7).

NOSSO COMENTÁRIO

      Jean Baptiste Roustaing, ilustre advogado de Bordéus, contemporâneo de Allan Kardec, ao escrever o Prefácio da obra “Os Quatro Evangelhos”, publicada em 1866, declarou o seguinte: “ – Devo explicar como e por que circunstâncias concorrentes fui levado a empreender, executar e publicar esta obra...

     “No mês de janeiro de 1858, fui acometido de uma enfermidade tão prolongada quão dolorosa (...) Em janeiro de 1861, completamente restabelecido, cuidei de voltar ao exercício da advocacia (...) Li O Livro dos Espíritos, em cujas páginas encontrei uma moral pura e uma doutrina racional (...) uma explicação lógica e transcendente da lei divina (...) Li, em seguida O Livro dos Médiuns  e nele se me deparou uma explicação racional da possibilidade das comunicações do mundo corpóreo com o mundo espiritual (...) Perlustrei os livros das duas revelações, o Antigo e o Novo Testamento ...”    

     Faço questão, porque considero importante e até necessário, abrir aqui um parêntese, para dizer o que  penso que ele, Roustaing, deveria ter dito também : “- Em setembro de 1861, eu soube que Allan Kardec, meu caro senhor e muito honrado chefe Espírita, como o tratei por cartas que lhe dirigi antes, havia aceito o convite feito pelo Sr. Sabo, presidente do centro espirita que eu freqüentava, para presidir à inauguração da Sociedade de Estudos Espiritas de Bordéus que seria realizada no dia 14 de outubro.

      “E de fato ele, nosso Mestre, compareceu no dia marcado, tendo sido muito bem recepcionado pelos espíritas bordelenses, a começar pelo Sr. Sabo, que discursou, abrindo os trabalhos da reunião geral, tecendo muitos elogios ao Grande Missionário de Lyon. Falou inclusive, meu querido amigo, o Dr. Bouché de Vitray, que, pelo que soube depois, fez referência ao meu nome, mas não justificou minha ausência, porque não tinha minha autorização para isto.

      “Na verdade, eu deveria ter comparecido também, porque, em carta que escrevera ao Mestre em junho de 1861, eu havia demonstrado meu desejo de ir a Paris só para conhecê-lo pessoalmente e fraternalmente lhe apertar a mão (R.E. junho/1861). Mas não fui, nem justifiquei minha ausência. É que a intuição que tive me aconselhou a tomar esta decisão.

        “Depois vim a saber por que motivo eu não deveria ter comparecido também. É que Allan Kardec, levava consigo uma mensagem do Espirito de Erasto, que deveria ler, como realmente leu, após seu discurso de agradecimento. E, nessa mensagem, aquele que fora discípulo do Apóstolo Paulo, iria deixar bem claro que tinha o dever ‘de premunir os espíritas sérios contra um perigo que estava ameaçando deturpar o pensamento do Espírito de Verdade, que presidiu o advento da Codificação Kardecista...”.

       Sim, ele, Roustaing, poderia e mesmo deveria ter dito isto, no prefácio que escreveu para “Os Quatro Evangelhos”. Mas, não disse.

      Preferiu seguir a intuição que recebera de seus Amigos Espirituais.

      Fecha o parêntese.

      Dando prosseguimento ao que escreveu no referido prefácio, acrescentou o Dr. Roustaing: “Em dezembro de 1861, foi-me sugerido ir à casa de Mme. Collignon, que eu não tinha a satisfação de conhecer ainda e a quem devia ser apresentado, para apreciar um grande quadro mediunicamente desenhado...

     “Lá fui. Oito dias depois voltei à casa de Mme. Collignon, com o intuito de lhe agradecer o acolhimento que me dispensara (...) No momento em que me preparava para sair, Mme. Collignon sentiu   na mão a impressão, a agitação bem conhecida dos médiuns, indicadora da presença de um espírito desejoso de se manifestar. A instâncias minhas, ela condescendeu em se prestar à manifestação mediúnica, e, no mesmo instante, a mão, fluidicamente dirigida, escreveu o seguinte:...”

     Entre outras coisas, eis o teor da mensagem recebida por Mme. Collignon: “...  A vós, pioneiros do trabalho (...) da explicação dos Evangelhos em espírito e verdade, explicação que preparará a unificação das crenças entre os homens e à qual podeis dar o nome de Revelação da Revelação (...) Ponde-vos, pois à obra...”

      Identificaram-se como autores desta mensagem os Espíritos “Mateus, Marcos, Lucas e João, assistidos pelos apóstolos”.

     Prosseguindo, diz Roustaing: “– Chamados desse modo a executar essa obra da revelação, que, certamente, de moto-próprio não ousaríamos tentar, incapazes, ignorantes e cegos que éramos, metemos ombro à tarefa...”

      Mais adiante, disse Roustaing: “ – Em maio de 1865, todos os materiais estavam preparados, tanto a respeito dos Evangelhos, como dos Mandamentos. E o aviso de dar a conhecer aos homens, de publicar a obra da revelação, me foi espontânea e mediunicamente transmitido  em termos precisos.

      “Mero instrumento, cumpri um dever executando tal ordem...” 

      (Quem quiser conhecer, na íntegra, todo o conteúdo do que escreveu  J. B. Roustaing, como Prefácio de “Os Quatro Evangelhos”, deve ler o volume I desta obra, que foi publicada pela F.E.B.).

      Agora, é importante frisar que o Dr. Roustaing, antes de levar os originais dessa obra psicografada por Mme. Collignon ao prelo para ser publicada, deveria

tê-los  submetido à apreciação de Allan Kardec, seu “honrado chefe Espírita”, como ele disse. Mas não o fez. Preferiu agir à revelia do Codificador do Espiritismo.

      Também é muito importante saber o que disse o Espírito de Erasto, em sua Epístola dirigida aos espíritas de Bordéus, que Allan Kardec fez questão de ler, na reunião geral do dia 14 de outubro de 1861. Eis, portanto, os tópicos, que, no momento, consideramos mais elucidativos:

EPÍSTOLA DE ERASTO AOS ESPÍRITAS DE BORDÉUS  (TRECHOS DA...)

      “... sim, meus caros discípulos, aproveito esta ocasião para vos mostrar quanto seria funesta ao desenvolvimento do Espiritismo (...) a notícia de uma cisão no centro que até agora nos encantou citá-lo (...); que tudo farão para semear a divisão entre vós (...); que vos armarão ciladas; que  vos jogarão uns contra os outros, a fim de fomentar a divisão e levar a uma ruptura, por todos os títulos lamentável ...”

      Mais adiante,  Erasto diz, categórico: “Tereis que lutar, não só contra os orgulhosos, os egoístas, os materialistas (...), mas ainda, e, sobretudo, contra a turba de Espíritos enganadores, que, (...) em breve  virão assaltar-vos; uns com dissertações sabiamente combinadas (...) insinuarão a heresia ou algum princípio dissolvente; outros, com comunicações abertamente hostis aos ensinos dados pelos verdadeiros missionários do Espírito de Verdade. Ah! Crede-me, não temais desmascarar os embusteiros que, novos Tartufos, se introduzirão entre vós sob a máscara da religião...”

     Em outro trecho mais adiante, Erasto diz: “... Eu tive que vos fazer ouvir uma voz tanto mais severa, meus amigos, quanto o Espírito de Verdade, mestre de todos nós, mais espera de vós (...) Ah! Vossa obra não é fácil!... (...) Tive que vos falar assim, porque era necessário vos premunir contra um perigo, que era meu dever assinalar; venho cumpri-lo...”

      E, concluindo sua Epístola aos espíritas de Bordéus, Erasto declarou: “ – Em nome do Espírito de Verdade que vos ama, eu vos abençôo, Espíritas de Bordéus.”

     Assinado: Erasto, Discípulo de Paulo Apóstolo

OSERVAÇÃO: Como se vê, Erasto, Espírito Superior, já sabia de tudo que viria acontecer em 1866, quando foi lançada por Roustaing a obra  apócrifa “Os Quatro Evangelhos”.