ASSIM FALOU ALLAN
KARDEC
"Muitas vezes nos foram dirigidas perguntas sobre a maneira por que foram obtidas as comunicações que constituem O Livro dos Espíritos. Resumimos aqui, com muito prazer, as respostas que temos dado a tais perguntas; é uma oportunidade para resgatarmos uma dívida de gratidão para com as pessoas que tiveram a boa vontade de nos prestar o seu concurso.
"Como explicamos, as comunicações por meio de batidas, outrora chamadas signologia são muito lentas e muito incompletas para um trabalho de fôlego; por isso tal recurso jamais foi utilizado. Tudo foi obtido pela escrita, por intermédio de diversos médiuns psicógrafos. Nós mesmos preparamos as perguntas e coordenamos o conjunto da obra; as respostas são, textualmente, as que nos deram os Espíritos; a maior parte delas foram escritas sob nossas vistas, outras foram tiradas de comunicações que nos foram remetidas por correspondentes ou que colhemos aqui e ali, onde estivemos fazendo estudos. Parece que para isso os Espíritos multiplicam aos nossos olhos os motivos de observação.
"Os primeiros médiuns que concorreram para o nosso trabalho foram as senhoritas B..., cuja boa vontade jamais nos faltou.. O livro foi quase todo escrito por seu intermédio e em presença de numeroso público, que assistia às sessões, nas quais tinha o mais vivo interesse. Mais tarde, os Espíritos recomendaram uma revisão completa em sessões particulares, tendo-se feito, então, todas as adições e correções julgadas necessárias. Esta parte essencial do trabalho foi feita com o concurso da senhorita Japhet, a qual se prestou com a melhor boa vontade e o mais completo desinteresse a todas as exigências dos Espíritos, porque eram eles que marcavam dia e hora para suas lições. O desinteresse não seria aqui um mérito especial, desde que os Espíritos reprovam qualquer tráfico que se possa fazer da sua presença; a senhorita Japhet, que é também uma notável sonâmbula, tinha seu tempo utilmente empregado, mas compreendeu que também lhe daria uma aplicação proveitosa ao se consagrar à propagação da Doutrina. Quanto a nós, já declaramos desde o princípio, e temos a satisfação de o reafirmar agora, jamais pensamos em fazer do Livro dos Espíritos objeto de especulação: seu produto será aplicado em coisas de utilidade geral. Por isso seremos sempre gratos aos que, de coração e por amor ao bem, se associaram à obra a que nos consagramos" (Revista Espírita, Ano I, nº 2 Fevereiro de 1858).
NOSSO COMENTÁRIO
É interessante observar que a primeira médium a que Kardec se refere, ele a designa com a inicial B..., já a segunda, o faz com o nome de família "Japhet".
Entretanto, antes Kardec andou freqüentando sessões que se realizavam em casa da Sra. Plainemaison, onde, pela primeira vez presenciou o fenômeno das mesas girantes e assistiu a alguns ensaios de escrita mediúnica numa ardósia com o auxílio de uma sesta. E foi numa dessas reuniões em casa da Sra. Plainemaison que ele veio a travar conhecimento com a família Baudin, cujo chefe, o Sr. Baudin, o convidou para assistir às sessões que se realizavam em sua casa de quinze em quinze dias. Ele foi, gostou do que viu e ouviu, tornando-se muito assíduo.
E Kardec nos descreve como eram essas reuniões: "Eram bastante numerosas; além dos freqüentadores habituais, admitiam-se também todos quantos solicitassem permissão para assistir a elas. Os médiuns eram as duas senhoritas Baudin, filhas do Sr. Baudin..."
Portanto, aquele "B" seguido de reticências se refere a essas duas jovens.
E foi por intermédio de uma delas que na sessão realizada em sua residência, no dia 25 de março de 1856, se apresentou o Guia Espiritual de Kardec: o Espírito de Verdade.