( Sobre obsessão, fascinação e subjugação )
“No número dos escolhos que a prática do espiritismo apresenta é necessário colocar em primeira linha a obsessão, isto é, o domínio que alguns Espíritos sabem exercer sobre certas pessoas. São sempre os Espíritos inferiores que procuram dominar; os bons não exercem nenhum constrangimento; eles aconselham, combatem a influência dos maus, e, se não são ouvidos, retiram-se. Os maus, ao contrário, agarram-se àqueles aos quais conseguem prender; se alcançam êxito em dominar qualquer um, identificam-se com o próprio Espírito da vítima e o conduzem como se costuma fazer com uma criança.
“A obsessão apresenta características diversas, que é necessário distinguir, e que resultam do grau de constrangimento e da natureza dos efeitos que ela produz. A palavra obsessão, é, em qualquer caso, um termo genérico pelo qual se designa este tipo de fenômeno, cujas principais variedades são: a obsessão simples, a fascinação e a subjugação.
“A obsessão simples acontece quando um Espírito malfazejo se impõe a um médium, se imiscui contra a sua vontade nas comunicações que ele recebe, impede-o de se comunicar com outros Espíritos e se coloca no lugar daqueles que se evocam.
“Não se está obsedado pelo simples fato de se estar sendo enganado por um Espírito mentiroso; o melhor médium está exposto a esse engano, sobretudo no início, enquanto lhe faltar ainda a experiência necessária, da mesma forma que entre nós as pessoas mais honestas podem estar sendo enganadas por trapaceiros. Pode-se, portanto, ser ludibriado, sem se estar obsedado: a obsessão está na tenacidade do Espírito que age e de cuja ação não se consegue desembaraçar...
“A fascinação tem conseqüências muito mais graves. Trata-se de uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e paralisa de certa maneira seu julgamento sobre as comunicações que recebe. O médium fascinado não acredita que está sendo enganado: o Espírito tem a arte de lhe inspirar uma confiança cega, que o impede de ver a mistificação e de compreender o absurdo do que escreveu, mesmo que salte aos olhos de todo mundo; a ilusão pode chegar mesmo ao ponto de o fazer ver o sublime na linguagem mais ridícula. Enganam-se os que pensam que esse tipo de obsessão só pode atingir as pessoas simples, ignorantes e desprovidas de senso; os homens mais espiritualizados, mais instruídos e inteligentes, de outro lado, não estão isentos dessa ilusão, o que prova que esta aberração é o efeito de uma causa estranha, cuja influência os subjuga...
“A subjugação é um envolvimento que paralisa a vontade da vítima, fazendo-a agir contra sua vontade. Ela fica, numa palavra, debaixo de um verdadeiro jugo.
“A subjugação pode ser moral ou corporal. No primeiro caso, o subjugado é levado a tomar decisões frequentemente absurdas e comprometedoras, que, por uma espécie de ilusão, considera sensatas. No segundo caso o Espírito age sobre os órgãos materiais, provocando movimentos involuntários. No médium psicógrafo se traduz por uma vontade incessante de escrever, mesmo nos momentos mais inoportunos...” (“O Livro dos Médiuns”, cap. XXIII, ns. 237 a 240)
NOSSO COMENTÁRIO.
A propósito desse tema de que Kardec trata com tanta sabedoria, vale lembrar aqui o que disse o saudoso escritor que foi José Herculano Pires, Professor emérito em Doutrina Espírita, em seu livro “O Roustainguismo à luz dos textos:
“... há um aspecto do problema da reencarnação em Roustaing que merece tratamento especial. Como que tentando reajustar o sistema evolutivo de Kardec, admiravelmente harmonioso, coerente e portanto lógico, os ‘ministros de Deus’ estabelecem uma estranha ligação entre os mundos fluídicos e os mundos materiais. Conseguem isso através de um expediente ridículo, determinando o retrocesso evolutivo dos espíritos altamente evoluídos, que nunca precisariam de encarnar-se. Esses espíritos angélicos repetem no roustainguismo a façanha de Lúcifer, o anjo rebelado, mas de maneira deprimente, sem nenhum sinal de grandeza satânica da revolta bíblica.
“Há três pontos que devemos considerar, no exame desse problema, com muita atenção: (1º) Roustaing é um decalque de Kardec, mas em sentido caricato. Sua doutrina é uma caricatura da Doutrina Espírita com todas as deformações intencionais destinadas a ridicularizar o Espiritismo; (2º) Roustaing - e com ele os ‘ministros de Deus’ – não foi capaz de compreender o problema da evolução do espírito em Kardec. O processo contínuo e seqüente da evolução foi quebrado pela teoria roustainguista, dando ocasião a um retrocesso que devolve a doutrina da reencarnação à metempsicose antiga; (3º) O restabelecimento da metempsicose, não sendo mais possível, diante da lúcida argumentação kardeciana a respeito e da natural evolução da cultura, os pseudo-teóricos da ‘revelação da revelação’ foram cair mais uma vez na armadilha do ilogismo, oferecendo-nos uma doutrina monstruosa da queda dos anjos, que só não apavora porque provoca riso...”
“... Os espíritos, sempre matreiros, aproveitam-se disso (isto é, da “ absoluta incapacidade de Roustaing para compreender o que havia lido em Kardec sobre o desenvolvimento do princípio inteligente a partir dos reinos inferiores da Criação”), e do precário estado mental e psíquico do advogado convalescente (na verdade Roustaing acabara de sair de uma doença grave e longa, como ele mesmo informou no prefácio da obra “Os Quatro Evangelhos”), para elaborarem a mais ridícula teoria da reencarnação...”
(OBS.: E aqui, Herculano Pires cita o trecho em que Roustaing se refere aos tais criptógamos carnudos ou “larvas informes”, “massa quase inerte”, formada “de matérias moles e pouco agregadas que rasteja, ou antes, desliza, tendo os membros, por assim dizer, em estado latente”, como está no primeiro volume de “Os Quatro Evangelhos”).
E prossegue Herculano Pires, grande Mestre em Espiritismo: “Essa é a ‘revelação da revelação’. Roustaing copia e desfigura Kardec, acrescentando aos seus ensinos os maiores absurdos...”
E conclui o capítulo dizendo:
“Temos assim a teoria da Metempsicose, tão seguramente refutada pela lógica de Kardec, devolvida ao meio espírita pelo ilogismo roustainguista. Bastaria esse triste episódio, colhido no caldeirão diabólico dos absurdos de ‘Os Quatro Evangelhos’, para nos provar, sem a menor sombra de dúvida, que essa obra é de autoria das trevas e que a sua finalidade é confundir os espiritistas pouco habituados a passar as coisas pelo crivo da razão. Mais do que isso, porém, o objetivo evidente é o de ridicularizar o Espiritismo, para dele afastar as pessoas de bom senso”.
(Ver “O VERBO E A CARNE”, parte I, cap. IX, págs. 41 a 46 – 2ª edição – Editora PAIDÉIA – S. Paulo/SP).
E agora, - pasmem os leitores! - não é que o médium Francisco Cândido Xavier, o Chico, psicografando mensagem de um pseudo Humberto de Campos (Espírito) teve a ingenuidade de deixar que o Departamento Editorial da FEB roustainguista lançasse ao público, em 1938, com o aval de seu guia espiritual, padre Nóbrega - leia-se Emmanuel, a obra “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, em cuja pág. 176 da 11ª edição se lê que: “... Allan Kardec, o grande missionário de Lyon, no seu maravilhoso esforço de síntese, segundo os planos de trabalho do mundo invisível, contaria com a cooperação de uma plêiade de auxiliares designados, particularmente, para coadjuvá-lo”. E, entre esses “auxiliares” aparece em primeiro lugar justamente João Batista Roustaing, o traidor de Kardec! Sim, o traidor de Kardec, o qual, por decisão de uma dessas “assembléias espirituais presididas pelo coração misericordioso e augusto do Cordeiro de Deus, fôra designado para organizar o trabalho da fé”.
E para cúmulo de tudo, os dirigentes roustainguistas da FEB, com o aval das Federativas Estaduais, que, com ela, formam esse tal Conselho Federativo Nacional, continuam mantendo o parágrafo único do artigo primeiro do Estatuto da chamada “Casa Mater do Espiritismo no Brasil”, considerando a obra de Roustaing como “complementar às da Codificação Kardecista”, desrespeitando assim o pensamento do querido Mestre Allan Kardec, que jamais a considerou como tal !... Pode isso!!!...
Em nossa opinião, este fato vem ilustrar de modo brilhante o que Allan Kardec disse sobre a obsessão, a fascinação e a subjugação. É assim que anda o movimento espírita brasileiro. Triste verdade!...