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ASSIM FALOU ALLAN KARDEC
       (Aos espíritas de Bordéus)

 “Senhoras e senhores.

            “Foi com felicidade que atendi ao vosso apelo, e o acolhimento simpático com que me recebeis é uma dessas satisfações morais que deixam no coração uma impressão profunda e inapagável. Se me sinto feliz com este acolhimento cordial, é que nele vejo uma homenagem à doutrina que professamos e aos bons Espíritos que no-la ensinam, muito mais que a mim pessoalmente, que não passo de um instrumento nas mãos da Providência.

            “Convencido da verdade desta doutrina e do bem que ela está convocada a produzir, tratei de lhe coordenar os elementos; esforcei-me por torná-la clara e para todos inteligível. É tudo quanto me cabe, e, assim, jamais me considerei seu criador. A honra cabe inteiramente aos Espíritos. É, pois, a eles só que se devem dirigir os testemunhos de gratidão; e não aceito os elogios que me dirigis de boa vontade, senão como um encorajamento para continuar minha tarefa com perseverança.

“Nos trabalhos feitos para atingir o objetivo que me propunha, sem dúvida fui ajudado pelos espíritos, como eles próprios m’o disseram várias vezes, mas sem qualquer sinal exterior de mediunidade. Assim, não sou médium, no sentido vulgar da palavra e hoje compreendo que para mim é uma felicidade que assim o seja. Por uma mediunidade efetiva, eu só teria escrito sob uma mesma influência; teria sido levado a não aceitar como verdade senão o que me tivesse sido dado, e, talvez, erradamente. Ao passo que, na minha posição, convinha que tivesse uma liberdade absoluta de apreender o que é bom, onde quer que se encontre e de onde quer que viesse. Assim foi possível fazer uma seleção dos diversos ensinamentos, sem prevenção e com inteira imparcialidade. Vi muito, estudei muito, observei muito, mas sempre com o olhar impassível e nada mais ambiciono do que ver a experiência que adquiri posta em proveito dos outros, aos quais tenho a felicidade de evitar os escolhos inseparáveis de todo noviciado.

            “Se trabalhei muito e se trabalho diariamente, estou largamente compensado pela marcha tão rápida da doutrina, cujos progressos ultrapassam tudo o que era de esperar pelos resultados morais que ela produz; e sinto-me feliz por ver que a cidade de Bordéus, não somente fica na retaguarda deste movimento, mas se dispõe a marchar na vanguarda, pelo número e pela qualidade dos adeptos...”

            Mais adiante, Kardec diz: “O mais belo lado do Espiritismo é o lado moral. É por suas conseqüências morais que triunfará, pois aí está a sua força, por aí é que ele é invulnerável...”

            E prossegue, dizendo: “...se as opiniões estão divididas sobre alguns pontos da doutrina, como saber de que lado está a verdade? É a coisa mais fácil. Para começar, tendes o vosso julgamento e, por medida, a lógica sã e inflexível. Depois, tereis o assentimento da maioria; porque, acreditai, o número crescente ou decrescente dos partidários de uma idéia dá a medida do seu valor; se ela fosse falsa, não conquistaria mais adeptos do que a verdade...”

            Mais adiante ele reafirma o que sempre disse: “O Espiritismo é uma Ciência, cuja experiência não se adquire senão com o tempo...”

            No final do seu longo discurso, Kardec diz o seguinte: “O Espírito de Erasto, que já conheceis por suas notáveis dissertações, também quer trazer-vos o tributo de seus conselhos. Antes de minha partida de Paris, ele ditou, por seu médium habitual (Sr. d’Ambel), a comunicação seguinte, que vou ter a honra de vos ler”.

Nota: esse discurso de Kardec foi lido na reunião geral do dia 14 de outubro de 1861 na sede da Associação Bordelense de Estudos Espíritas.

(Fonte: Revista Espírita de novembro/1861)

 
NOSSO COMENTÁRIO

            Do discurso de Allan Kardec aos espíritas de Bordéus destacamos os seguintes pontos que consideramos importantes: 1º) Ele “jamais” se considerou criador do Espiritismo. Por isso mesmo não pode ser chamado de “fundador” do Espiritismo; 2º) Ele declarou que não era “médium”, no sentido vulgar da palavra e se regozijava por isso; 3º) Ele destacou o “lado moral do Espiritismo”, ou melhor, as conseqüências morais da aplicação dos princípios básicos da Doutrina; 4º) Ele mostrou como devemos agir, para acabar com as divergências, colocando em primeiro lugar o nosso “julgamento, ou seja, os argumentos por nós usados, dentro de uma “lógica sã e inflexível”. Em segundo lugar vem o critério da maioria. Devemos agir, portanto, democraticamente e não autoritariamente, impondo nossas posições, nossos pontos de vista; 5º) Ele voltou a insistir que o Espiritismo é uma Ciência, sugerindo que devemos agir sempre como cientistas espíritas, vendo muito, estudando muito, observando muito. 6°) Finalmente, ele ressalta a presença de Erasto em Espírito, fazendo questão de ler uma comunicação que recebeu dele antes de partir de Paris. Infelizmente, hoje em dia, nas sessões dos centros espíritas , raramente se faz menção a esse grande e luminoso Espírito, que foi um dos Guias e Mentores de Allan Kardec. O que mais se ouve atualmente é Emmanuel, André Luiz, Meimei, Joana de Angelis, Humberto de Campos, e outros. Erasto fica completamente por fora. Um desconhecido! Infelizmente!