“Pondo qualquer questão pessoal de lado, tenho adversários naturais nos inimigos do Espiritismo. Não cogiteis que me lamente! Longe disto. Quanto maior é a animosidade deles, melhor comprova a importância que a doutrina espírita assume aos seus olhos.
Se se tratasse de algo sem conseqüências, uma dessas utopias que já nascem inviáveis, não lhe prestariam atenção. Não tendes visto escritos vasados em um tom de hostilidade que não se encontra nos meus, - quanto à ideologia, - e nos quais as expressões não são mais parcimoniosas do que o atrevimento dos pensamentos? Contra eles, todavia, não enunciam uma única palavra! O mesmo se daria se as doutrinas que luto por difundir, permanecessem circunscritas às páginas de um livro.
Entretanto, o que pode parecer mais espantoso é que tenho adversários mesmo entre os adeptos do Espiritismo. Ora, nesta área é que uma explicação se torna necessária.
Entre os que adotam as idéias espíritas há, como bem sabeis, três categorias bem distintas:
1. Os que crêem pura e simplesmente nos fenômenos das manifestações, mas que deles não deduzem qualquer conseqüência moral;
2. Os que percebem o alcance moral, mas o aplicam aos outros e não a si mesmos;
3. Os que aceitam pessoalmente todas as conseqüências da doutrina e que praticam ou se esforçam por praticar sua moral.
Estes, vós bem o sabeis, são os espíritas praticantes, os verdadeiros espíritas...
... Desde que surgiram as primeiras manifestações dos Espíritos, algumas pessoas viram nisso um meio de especulação, uma nova mina a ser explorada. Se essa idéia seguisse o seu curso, teríeis visto pulular por toda parte médiuns e pseudomédiuns, oferecendo consultas a um dado preço por sessão. Os jornais estariam cobertos de anúncios e reclames. Os médiuns ter-se-iam transformado em ledores da sorte e o Espiritismo se enquadraria na mesma linha da adivinhação, da cartomancia, da necromancia, etc.
Nesse conflito, como poderia o público discernir a verdade da mentira? Pôr o Espiritismo a salvo, em meio a tal confusão não seria coisa fácil. Tornou-se imperioso impedir que fosse levado por essa via funesta. Era preciso cortar o mal pela raiz, caso contrário o teria atrasado por mais de um século. Foi o que me esforcei por fazer, demonstrando, desde o princípio, a face grave e sublime dessa nova ciência, fazendo-a sair do caminho puramente experimental para fazê-la penetrar no da filosofia e da moral, revelando, finalmente, a profanação que seria explorar a alma dos mortos, ao mesmo tempo em que cercamos seus despojos de respeito. Desse modo, assinalando os inevitáveis abusos que resultariam de semelhante estado de coisas, contribui, - e disso me vanglorio - para que se levasse ao descrédito a exploração do Espiritismo, conduzindo o público, por isso mesmo, a considerá-lo como algo de venerável e digno de respeito.
Àqueles, pois, que se queixarem de ter sido enganados, ou de não haver obtido as respostas que desejariam, podemos dizer: “ – Se tivésseis estudado o Espiritismo, saberíeis em que condições ele pode ser experimentado com frutos; saberíeis quais são os legítimos motivos de confiança e de desconfiança, o que, em suma, se pode dele esperar; e não teríeis pedido o que ele não pode dar; não teríeis ido consultar um médium como a um cartomante, para solicitar aos Espíritos revelações, conselhos sobre heranças, descobertas de tesouros e cem outras coisas semelhantes que não são da alçada do Espiritismo. Se fostes induzido em erro, deveis apenas culpar-vos a vós mesmo...”
(Allan Kardec, em “Viagem Espírita em 1862”, págs. 47 a 52)
NOSSO COMENTÁRIO
Aí está o principal motivo pelo qual se acha que não devemos evocar os Espíritos: os centros espíritas se transformariam em fontes de renda pela venda de entradas para consultas aos médiuns transformados em ledores da boa sorte, como acontece na “Casa dos Espíritos” de Paris e na maioria das entidades espíritas francesas, conforme registrou, em nota de rodapé, o confrade Wallace Leal V. Rodrigues.
Mas, na verdade, aqui no Brasil, não se adota nos centros e grupos bem dirigidos e orientados, a prática da evocação, porque o Espírito Emmanuel – leia-se padre Jesuíta Manuel da Nóbrega – não a aconselhou, quando, respondendo a uma consulta do Chico, assim se pronunciou: “ – Não somos dos que aconselham a evocação direta e pessoal, em caso algum” (Ver a questão 369 do livro “O CONSOLADOR”, psicografado por Francisco Cândido Xavier, 11ª edição – Editora da FEB).
E nós sabemos muito bem que, quem dirige e orienta o movimento espírita brasileiro, desde o início dos anos trinta do século passado é, na verdade o Provincial da Companhia de Jesus, cujo instrumento mediúnico, o Chico, sempre manteve um ótimo relacionamento com os dirigentes roustainguistas febeanos.