(Sobre a natureza do Cristo)
“A questão da natureza do Cristo tem sido debatida desde os primeiros séculos do Cristianismo (...) Nada tendo Jesus deixado escrito, seus únicos historiadores foram os Apóstolos, que também nada escreveram enquanto o Cristo ainda era vivo. Por outro lado, também nenhum historiador profano, contemporâneo do Cristo, deixou algo escrito a seu respeito. Portanto, nenhum documento mais existe sobre sua vida e sua obra, além dos Evangelhos (de Mateus, Marcos, Lucas e João) ...
“No exame que vamos fazer, da questão da divindade do Cristo (...) apoiar-nos-emos, exclusivamente, nos fatos (...) Ora, entre esses fatos, outros não há mais preponderantes nem mais concludentes do que as próprias palavras do Cristo (...) Ninguém pode ter a pretensão de saber melhor do que Jesus o que ele quis dizer; da mesma forma ninguém pode pretender estar mais bem informado sobre sua natureza do que ele próprio. E, desde que ele comenta suas palavras e as explica para evitar qualquer equívoco, é a ele que devemos recorrer, a menos que neguemos sua superioridade e nos coloquemos acima de sua própria inteligência.
“Segundo a Igreja, a divindade do Cristo está firmada pelos milagres, que testemunham um poder sobrenatural (...) Todavia, a maioria dos fatos operados por Jesus, segundo os Evangelhos, acha-se hoje completamente demonstrada pelo Magnetismo e pelo Espiritismo, como fenômenos naturais, já que eles se produzem às nossas vistas, quer espontaneamente (manifestações espontâneas), quer quando provocados (pela evocação dos Espíritos). Nada há, portanto, de anormal que Jesus possuísse também faculdades idênticas às dos nossos magnetizadores, curadores, sonâmbulos, videntes, médiuns, etc....
“Se o próprio Jesus qualifica de milagres os seus atos, é que, nisto como em muitas outras coisas, lhe cumpria apropriar suas palavras, sua linguagem aos conhecimentos dos seus contemporâneos. Sim, porque para o vulgo, eram milagres as coisas extraordinárias que ele fazia, mas que pareciam sobrenaturais, não só no seu tempo, como mesmo muito tempo depois. Ele não poderia, pois, dar-lhes outra denominação...
“Importa, pois, se risquem os milagres do rol das provas sobre as quais se pretendeu e se pretende ainda fundar a divindade da pessoa do Cristo...
“Quanto às suas palavras, não só Jesus, em nenhuma circunstância, em nenhum momento de sua vida, se deu por igual a Deus, como, pelo contrário, se afirmou inteiramente inferior. Exemplos: “- Meu Pai, que me enviou, foi quem me prescreveu, por mandamento seu, o que devo dizer e como devo falar”; “- Minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou (Deus)”; “- As palavras que tendes ouvido de minha boca não são minhas, mas de meu Pai que me enviou”; “- Desci à Terra não para fazer a minha vontade, mas, sim, a daquele que me enviou (ou seja, Deus)”. (“OBRAS PÓSTUMAS” – 19ª edição - FEB)
NOSSO COMENTÁRIO
Pelo exposto acima, ficou bem claro que Allan Kardec, o único e verdadeiro missionário da Terceira Revelação, assistido pela gloriosa Falange do Espírito de Verdade, jamais concordou com o dogma da divindade do Cristo, instituído pelos Concílios eclesiásticos sob a presidência dos Sumo-pontífices. Jesus, portanto, para nós, verdadeiros espíritas, não deve ser visto como a segunda pessoa da Santíssima Trindade, tendo em vista que a doutrina da Igreja afirma ter sido milagrosamente concebido por obra e graça do Espírito Santo.
Ao contrário de Roustaing que afirmou que Jesus, como o próprio Deus, já nasceu perfeito, e, portanto, infalível, podendo, pois, ser considerado o “Cristo de Deus” (“Os 4 Evangelhos”, vol. I, pág. 329), Allan Kardec, sob a égide do Espírito de Verdade, em “A Gênese” (cap. XV, nº 2), deixou bem claro que o Espírito de Jesus, foi também criado “simples e ignorante”, mas evoluiu de tal forma, passando por várias encarnações, que chegou mesmo a atingir a ordem mais elevada da escala do progresso. Deve ser considerado, por isso mesmo, um Espírito Superior e foi, como tal, que se tornou um missionário divino na Terra, ou seja, um “enviado de Deus”.
Para Roustaing, a concepção de Jesus foi “obra do Espírito Santo”, como afirma também a Doutrina da Igreja Católica. Ao nascer, seu corpo, humano, não era material, de carne e osso como o de todos nós e sim fluídico. Por outro lado a gravidez e o parto de Maria não foram reais e sim, “aparentes”. (op. cit. vol. I, págs. 204 e 205) Já para Allan Kardec, assistido pelo Espírito de Verdade, “como homem, Jesus tinha a organização dos seres carnais (...) Desde o momento da concepção até sua morte, tudo em Jesus, ou seja, em seus atos, em sua linguagem e nas diversas circunstâncias de sua vida, tudo revela os caracteres inequívocos da corporeidade”. “Jesus, pois, teve como todo homem, um corpo carnal e também um corpo fluídico...” (“A Gênese”, cap. XV nº 65 e 66) Nunca foi, portanto, somente um corpo fluídico, nem se apresentou jamais diante de seus contemporâneos, em “aparência”, ou seja, fingindo que era homem de carne e osso, mas não era. Sim, porque Jesus, o Homem de Nazaré, “Espírito Superior reencarnado na Terra, para cumprimento de uma missão divina”, como disse Kardec, jamais representaria o papel de um histrião....
Agora perguntarão alguns leitores bem intencionados: “ – Por que motivo insistimos tanto neste tema?!”. E respondemos com toda a boa vontade. É que, lendo o “ANUÁRIO ESPÍRITA 2005”, encontramos um artigo assinado por Carlos A. Baccelli, (esse mesmo médium de Uberaba/MG, que vive inteiramente preso a uma idéia fixa, mas completamente absurda, que focalizaremos mais adiante). Nesse artigo ele disse uma grande verdade ao afirmar: “ Infelizmente, há centros espíritas se ocupando de mais com a mediunidade e de menos com o estudo sistemático da Doutrina Espírita, quando, sob nossa óptica (sic), deveria ser o contrário” (...) “Realizando uma pesquisa informal em diversas casas espíritas, às quais temos comparecido, constatamos que poucos, pouquíssimos leram do começo ao fim, “O Livro dos Médiuns”, “O Céu e o Inferno” e “A Gênese” (op. cit. págs. 33 e 34.). Triste realidade!...