(Sobre as manobras dos adversários)
“Meus irmãos, há um ponto para o qual considero que é meu dever chamar a vossa atenção. Refiro-me às surdas manobras dos adversários do Espiritismo. Depois de tê-lo, inutilmente, atacado abertamente, às claras, procuram agora atingi-lo traiçoeiramente pelas costas. É preciso estardes atentos, bem prevenidos contra essa tática.
“Como é do vosso conhecimento, já atacaram o Espiritismo em nome da razão, da ciência, da religião. Mas nada conseguiram. Tentou-se depois cobri-lo de ridículo, um acintoso ridículo. Mas também nada conseguiram. Recorreram ainda a ameaças e perseguições. Tudo em vão!
“Devemos então acreditar que o inimigo já se deu por vencido?! Não, nada disso. Restam-lhe ainda dois recursos.
“Assim como quiseram em vão ridicularizar o Espiritismo ou Doutrina Espírita, procuram agora ridicularizar seus adeptos, os espíritas. Para isso provocam situações e atos ridículos atribuídos a certos pseudo-espíritas, ou melhor, falsos espíritas, alegando-se que todos, sem exceção, ao se mostrarem como médiuns, agem como mistificadores, charlatães, necromantes, cartomantes, ledores da sorte. E facilmente encontram pessoas que se mostram comparsas, auxiliares, coadjutores, complacentes, empregando sinais místicos, cabalísticos, para justificarem o que ousaram afirmar em entrevistas em certos jornais, que publicam notícias como estas: ‘Os espíritas se entregam às práticas da magia e da feitiçaria; suas reuniões são renovadas cenas do sabá ou assembléias noturnas festivas de bruxos e bruxas, reunidos sob a presidência de Satanás, todos os sábados, à meia-noite’.
“É preciso, pois, que se esteja em guarda contra todas essas provocações que possam favorecer a crítica.
“Outra tática também muito comum dos adversários do Espiritismo, para alcançarem seus fins, consiste em semear a desunião entre os adeptos, atiçando o fogo de pequenas paixões, de ciúmes e rancores, fazendo nascer os cismas, suscitando causas de antagonismo e de rivalidade entre os grupos...
“E não se deve crer que são somente os inimigos declarados que agem dessa forma! Não, são também os que se dizem simpatizantes da Doutrina e amigos dos seus adeptos. Tudo na aparência!
“É necessário, portanto, vos manterdes, constantemente em guarda, para não serdes apanhados desprevenidos.
“O Espiritismo tem inimigos, sim, como toda e qualquer idéia nova os tem.
Mas, uma coisa é certa: contra a verdade, ninguém e nada pode prevalecer.
“Assim, os que combatem e atacam o Espiritismo com mais rigor, não o fazem na realidade porque ele constitui uma idéia falsa, mas, sim, porque apresenta muita coisa nova, certa, de grande importância, que acaba com erros do passado, esclarecendo tudo à luz do bom sonso, da razão e da lógica. É por isso que o Espiritismo inquieta e atemoriza os que o combatem.
“Quanto às publicações mediúnicas, algumas há que são evidentemente nocivas, tanto por sua forma, quanto por seu conteúdo.
Sob nomes respeitáveis, logicamente apócrifos, revelam um contexto absurdo ou trivial, o que, naturalmente, se presta ao ridículo e oferece armas à crítica. Tudo se torna ainda pior quando, sob o manto desses mesmos nomes respeitáveis, formulam-se sistemas excêntricos ou grosseiras heresias científicas...”(Fonte: “Viagem espírita em 1862”)
NOSSO COMENTÁRIO.
Allan Kardec deixou bem claro que, se somos realmente espíritas, devemos estar sempre em guarda contra os ataques dos nossos adversários... (Continua)
Não podemos, portanto, nos omitir, muito menos ser coniventes com eles para evitar confrontos. Assim, se somos oradores, expositores, conferencistas ou palestrantes, temos que usar a tribuna para mostrar ao público os erros dos adversários; se somos escritores, temos que escrever e publicar livros polêmicos; se somos jornalistas ou responsáveis por revistas e boletins informativos, temos que escrever artigos combativos com a finalidade de mostrar com quem está a verdade.
Foi por isso que o professor José Herculano Pires disse, muito acertadamente: “É necessário que os espíritas sinceros não se calem. É preciso dizer, alto e bom som, a verdade sobre a obra de Roustaing”...
E por falar em Roustaing é preciso lembrar o seguinte: em princípios de 1861, ele trocou correspondência com Allan Kardec, e, nas cartas que lhe escreveu, deixou bem claro que era seu amigo, discípulo e grande admirador. Disse também que estava ansioso para conhecê-lo, pessoalmente.
No entanto, quando em outubro, Kardec esteve em Bordéus, atendendo a convite feito pelo Sr. Sabo, presidente do mesmo centro espírita que Roustaing freqüentava, não compareceu à reunião e ao almoço, em que foi prestada justa e merecida homenagem ao Codificador. E também fez questão de não o procurar pessoalmente.
Dois meses depois, indo visitar a médium, Madame Collignon, dela recebeu mensagens ditadas por espíritos que usavam nomes respeitáveis do tempo de Jesus, os quais disseram que a ele, Roustaing, cabia fazer a “revelação da revelação”, conforme está em “Os Quatro Evangelhos”.
E o bastonário de Bordéus fez tudo direitinho. Mas nada comunicou ao Mestre Allan Kardec, de quem se dizia amigo e a quem dizia respeita como grande “chefe espírita”. Fez tudo, portanto, à sua revelia, deixando o grande Missionário lionês profundamente perplexo ao receber, em maio de 1866 um exemplar dos volumes dessa obra. Perplexo, sim, porque, ao lado de coisas boas, que teve de reconhecer, como crítico imparcial que era, Kardec encontrou também muita coisa duvidosa, que precisava ser confirmada.
Vê-se, pois, assim, que Roustaing foi um daqueles falsos espíritas, falsos discípulos, que, aparentemente, mostravam-se, fiéis, sinceros e leais. Mas só na aparência!
Lembremo-nos sempre de que, em suas viagens de propaganda do Espiritismo, realizadas em 1862, por conseguinte, dois anos antes de ser lançada a obra de Roustaing, Allan Kardec, o único e verdadeiro Missionário da Terceira Revelação já nos dizia: “ – Outra tática também muito comum usada pelos adversários do Espiritismo, para alcançarem seus objetivos, consiste em semear a desunião entre os espíritas. E não são somente os inimigos declarados que agem dessa maneira. Não! São também os que se dizem simpatizantes da Doutrina e amigos dos seus adeptos. Tudo, na aparência! No fundo são mesmo nossos inimigos, nossos adversários, nossos falsos amigos, que se mostram sempre fingidos, hipócritas, mentirosos! É preciso, pois vos manterdes constantemente em guarda, para não serdes apanhados desprevenidos...”
A propósito, o movimento espírita no Brasil, há mais de cem anos vem sendo dirigido e orientado por uma instituição, que, aparentemente, se diz seguidora de Allan Kardec, cujas obras vive reeditando e divulgando em sua revista “Reformador”. Mostra-se assim fiel, sincera e leal amiga dos verdadeiros adeptos da Doutrina. Mas por outro lado, mantém no artigo primeiro do seu Estatuto, um “parágrafo único” que diz que, para a divulgação do Espiritismo, não bastam as obras básicas da Codificação Kardecista. É preciso também que se estude e divulgue a obra “Os Quatro Evangelhos” de Roustaing, que é complementar às de Allan Kardec, o que, na verdade, é uma grande mentira, que o próprio Mestre, na Revista Espírita de junho de 1866 e em sua obra “A GÊNESE”, publicada em 1868, repeliu, veementemente, como se constata lendo-se o artigo XV que trata da superioridade da natureza de Jesus.
No “Evangelho segundo o Espiritismo” de Allan Kardec, há um capítulo que diz: “NÃO SE PODE SERVIR A DEUS E A MOMON” (Cap. XVI) e outro em que, por duas vezes, o Espírito de Erasto nos alerta contra os “FALSOS CRISTÃOS” e os “FALSOS PROFETAS”. (Cap. XXI). Deixou claro: “Cuidado! O inimigo está para aparecer!