= Moura Rego =
“Será que no nosso hoje, sabemos nós, espíritas, qual a natureza da Casa Espírita e o que ela representa para o movimento espírita?
Se de um lado temos aqueles que acreditam com boa fé que a casa espírita seja um hospital de Almas. Estariam corretos? Qual o pensamento de Kardec a respeito?
Outros muitos tecem longas palestras, dizendo que a casa espírita seja o celeiro da caridade e do amor ao próximo, propagandeando o valor das doações de cestas básicas, cortes de cabelo, e visitas aos menos favorecidos. O Codificador nos mostrou isso nas páginas das Obras Básicas?
Outro núcleo por demais agitado, afirma que a casa espírita é e será sempre o grande laboratório Espiritual, abrindo as asas científicas da Doutrina a vôos altos. Será mesmo que o codificador só enxergava esta imagem?
Nesses nossos tempos de visitas às inúmeras dessas casas espíritas e em conversas animadas com os núcleos jovens e maduros das mesmas, ouvimos muita coisa, aprendemos muito, mas ficou-nos a impressão de que ainda não se tinha apurado os ‘olhos de ver’ para o que seja o mote principal da Casa Espírita. Não que seus integrantes não o tenham querido ver; não que não tenham se esforçado para entender, apenas faltou-lhes, de parte do corpo diretor dessas casas, uma maior informação, pautada na codificação, tão somente nela, posto que o codificador, com a ajuda da tão decantada plêiade de Espíritos superiores, a colocou em nossas mãos para estudo, notem bem, para estudo, amigos.
Estudar significa raciocinar sobre o lido, fator e sem o qual não se aprende, nem se forma elemento de convicção forte par que se possa emitir comentário ou se Ter o tão falado “entendimento” do assunto.
Mas, estuda-se muito na casa espírita, dizem-me sem mentir muitos companheiros. Ao que respondo: Não digo que não, mas antes haverão de me provar que qualquer tema estudado, sem que se tenha a raiz, o fulcro do tema bem fundamentado e esclarecido possa vir a dar bons resultados.
Amigos, falamos de Doutrina Espírita, dela mal sabemos o B A = BA. Sem um estudo doutrinário perfeito, encimado pelos ditames dos livros que compõem as Obras Básicas, toda a literatura convergente se esvai pelos ralos de nosso desconhecimento. Por certo há autores excelentes, de excelência no saber e no explicar; todos eles falam da matéria espírita, mas infelizmente não fazem doutrina. Digo isso ressaltando nomes como de Léon Denis, J. Herculano Pires e Hermínio C. de Miranda, entre outros. Por que? A resposta salta-nos aos olhos de tão simples: todos eles falam da doutrina, têm-na sob as luzes de seu grande saber, mas, mas sob suas próprias ópticas. A razão e o bom senso, que nos servem de elmos contra as lancetadas da ignorância, guiam-nos ao pensamento de que, quando se tem um corpo doutrinário, completo, livre de falsas interpretações e trazido com a validade de um Controle Universal, estamos no bom caminho. Estes é que seriam os postulados que nos serviriam melhor de alicerce do aprendizado e não as obras ditas subsidiárias.
Não é meu interesse ou trabalho, convencer ninguém do que falo, mas será que haveria contradita a estas citações?
“Um dos maiores obstáculos à propagação da doutrina é a falta de unidade. O único meio de evitá-lo, se não presentemente, ao menos no futuro, é apresentar essa propagação em todas as partes e até nas minudências com tal precisão e clareza que seja impossível qualquer interpretação divergente (...)”.
“O Espiritismo, bem entendido e bem compreendido, é o meio único de remediar esse estado de coisas e tornar-se, como dizem os Espíritos, a grande alavanca de transformação da humanidade. A experiência deve esclarecer-nos sobre o caminho a seguir, mostrando-nos os inconvenientes do passado, ela nos diz claramente que o único meio de evitá-lo para o futuro é assentar o Espiritismo em bases sólidas de uma doutrina positiva, nada deixando à interpretação. As dissidências, que poderiam surgir, se fundirão na unidade principal, estabelecida em bases mais racionais, claramente definidas”.
Para aqueles noviços nas linhas doutrinárias, ou para os que de tanto caminho andado nas estradas do Espiritismo, não saibam, ou que as tenham esquecido, lembraria que as afirmações acima são do próprio codificador, Allan Kardec.
Ora, se não fossem entendidas estas palavras como o cerne, o embrião, ou o âmago do que deveria ser o Mote principal da casa espírita, serve-nos ainda, apenas como um consolo, esta outra citação, oriunda da mesma fonte, tão desprezada em nossos dias. “A organização que propusemos para a formação dos grupos espíritas tem por objetivo preparar os caminhos que devem facilitar, entre eles, relações mútuas. Ao número de vantagens que derivam dessas relações, é preciso colocar, em primeira linha, a unidade da Doutrina que lhe será a conseqüência natural. Essa unidade já está feita em grande parte e as bases fundamentais do Espiritismo hoje estão admitidas pela imensa maioria dos adeptos; mas ainda há questões duvidosas, seja que não hajam sido resolvidas, seja que hajam sido em sentido diferente pelos homens, e mesmo pelos Espíritos (...)” Allan Kardec.
Temos então, meus amigos, nessas poucas linhas, um valioso testamento do codificador norteando o rumo do que hoje é conhecido para nós como a Casa Espírita. É ela a nossa grande Escola, o nosso Laboratório, a nossa Academia, compreendendo esses três matizes, o seu fundamento basilar, sob a égide do tríplice aspecto: Ciência, Filosofia e conseqüências morais.
Este resumido artigo teve como mote um alerta e um pedido. Alertá-los para as conseqüências que advirão da falta da formação doutrinária. Pedir-lhes que evitem todos os esforços para que, por ação de sua movimentação, enquanto espiritais, e, portanto, participantes das casas espíritas e do movimento espírita, comecem a procurar, junto às diretorias das casas espíritas que freqüentem, a avaliação dos cursos ministrados e a consecutiva e necessária modificação em seu conteúdo, pois é do estudo consistente e bem elaborado que se faz o conhecimento doutrinário, este, que todos buscamos e precisamos” (RJ, 24/02/2005)