Em 1938, o Espírito de Humberto de Campos, pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier, euforicamente, proclamou: “BRASIL, CORAÇÃO DO MUNDO, PÁTRIA DO EVANGELHO”. E, como exaltava a obra do jesuíta Padre Manoel da Nóbrega e a ação dos pioneiros do Espiritismo no Brasil, a obra foi prefaciada por Emmanuel e publicada pela Federação Espírita Brasileira, transformando-se logo no livro mais vendido e mais procurado pelos espíritas brasileiros e estrangeiros também, pois tem sido traduzida em vários idiomas.
A alegria e satisfação que essa obra causou no mundo espírita foram enormes, pois se passou a ter a convicção plena de que, sob a proteção do “Coração misericordioso do Cordeiro de Deus”, nosso país iria se transformar, imediatamente, num verdadeiro eldorado, ”lugar pródigo em delícias e riquezas”, ou seja, o verdadeiro paraíso terrestre, que a Humanidade vem procurando há tantos séculos. E o fanatismo que essa obra provocou no meio espírita foi tão grande que pelo “Pacto Áureo”, assinado em outubro de 1949, transformando o Conselho Federativo Nacional num simples Departamento da FEB, ficou decretado que: “cabe aos espíritas do Brasil porem em prática a exposição contida” no livro em epígrafe.
Muito bem! Estamos iniciando este mês o sexto ano do século XXI e do terceiro milênio. De 1938 até 2006 foram passados já sessenta e oito anos. Olhando-se então para tarás, pode-se perguntar hoje: “ – Será mesmo o Brasil a Pátria do Evangelho, como declarou, euforicamente o Espírito de Humberto de Campos? Será?!!!”.
Na minha modesta opinião, acho que não, por vários motivos, a começar pelo seguinte: a pátria é o lugar, o país, onde nascemos, e não foi no Brasil que o Evangelho nasceu e sim na Palestina, onde foi pregado e exemplificado por Jesus de Nazaré, o grande Homem, e não esse agênere falso e mentiroso, que andam mostrando por aí. Será que esse Espírito, que se apresentou como sendo Humberto de Campos, um dos “imortais” da Academia Brasileira de Letras, não sabia disso?! E depois, quem acompanha as notícias veiculadas pela imprensa escrita, falada e televisionada, tem a convicção plena de que aqui o progaresso moral, o progresso espiritual não vêm acompanhando o progresso material, que caminha numa velocidade imensa. Na verdade, materialmente falando, o país se transformou muito: as cidades de outrora viraram metrópoles; os antigos territórios passaram a ser Estados da Federação; as capitais das antigas províncias viraram megalópoles, cheias de altos edifícios, de magníficos condomínios, de palácios suntuosos públicos e particulares; as ruas, depois de calçadas, foram asfaltadas; os lampeões, que iluminavam as casas e as vias públicas, foram substituídos por lâmpadas elétricas; nas residências, nas casas comerciais e nas repartições públicas, apareceram os rádios, os telefones, as televisões, os computadores; os dramas, as comédias e os romances de amor, que, antigamente, só apareciam nos livros, nos teatros e nos cinemas, hoje em dia aparecem também dentro de casa, onde as famílias se reunem diante das televisões para assistir às telenovelas... Enfim, um grande, um imenso progresso material, que deu ao Brasil a categoria de país emergente, que sai do terceiro mundo e já quer se igualar às grandes potências mundiais.
Em contrapartida, como vive a população brasileira?
Não precisaríamos dizer nada a este respeito, porque as manchetes de jornais e revistas, os livros, os filmes, os programas televisivos aparecem, diariamente, dentro de nossa própria casa, para nos dizer e mostrar como anda o mundo moderno nesta chamada “Pátria do Evangelho”. Pátria abençoada e protegida pelo Cordeiro de Deus, que aparece, majestosamente numa estátua de pedra com os braços abertos e acolhedores para os turistas nacionais e estrangeiros tirarem suas fotografias.
E o que se passa na sociedade?
As criancinhas recém nascidas, frutos da violência, renegadas pelas mães, são jogadas nas latas de lixo e as que não têm esse destino, ficam vivendo em lares formados por pessoas carentes, onde as mulheres miseráveis vivem trocando de companheiros, que as engravidam e dão no pé, deixando-as com vários filhos fracos e desnutridos. Os que já têm idade para aprender a ler e escrever, ao invés de irem para as escolas, vão para as ruas pedir esmolas ou se mostrar aos motoristas de taxis e carros particulares como malabaristas, e assim conseguirem levar para casa alguns trocados, para ajudarem os pais nas despesas da família. Outros, muito cedo, enveredam para o mundo das drogas e da prostituição, tornando-se vítimas de traficantes do sexo e de padres pedófilos.
No meio urbano a situação é esta: casamentos que duram meses; violência contra as mulheres em casa e nas ruas; assaltos, estupros, sequestros; invasões de imóveis pelo grupo dos sem-teto, que depois são despejados à força pela polícia por ordem do juiz de direito; filas intermináveis nas escolas para se conseguir matrículas, nos hospitais e clínicas de saúde, para se marcar consultas, muitas vezes transferidas por falta de condições materiais e de profissionais, que estão constantemente em greves prolongadas. E os que precisam de atendimento de urgância não encontram vagas e têm de ficar esperando nos corredores....
No meio rural a escravidão humana ainda existe apesar da famosa “Lei Áurea” e os “sem terra” vivem invadindo e tomando à força as propriedades alheias.
No âmbito da administração pública, o exemplo que vem de cima é péssimo: falta de cumprimento das promessas feitas em campanhas eleitorais; desvios de verbas para fins ilícitos; corrupção das autoridades; suborno por parte dos servidores, nos três níveis de governo (municipal, estadual e federal) e nos três poderes da República (Executivo, Legislativo e Judiciário); abertura de processos policiais e de comissões parlamentares de inquéritos, para julgamento dos infratores, resultando daí as constantes cassações de mandatos...
Enfim, uma vergonha! Sim, uma VERGONHA”
E é isto que o Espírito de Humberto de Campos, que, em vida chegou a envergar o fardão da Academia Brasileira de Letras, chamou de “Pátria do Evangelho”...
Quá! Quá!Qua!Quá!... Só rindo mesmo!
E.C.P.