TRISTE EPISÓDIO OCORRIDO EM 1953
No livro “J. HERCULANO PIRES, O APÓSTOLO DE KARDEC” de autoria de Jorge Rizzini, encontramos um capítulo que trata dos “Erros da FEB”. Nele se toma conhecimento de um triste episódio que contribuiu bastante par o descrédito da chamada “Casa Mater”. Senão, vejamos.
Em entrevista concedida em 1953 ao confrade Geraldo de Aquino, no programa radiofônico “Hora Espiritualista João Pinto de Souza” da Rádio Clube do Brasil, o então Presidente da Federação Espírita Brasileira (FEB), Sr. Antonio Wantuil de Freitas, após narrar fenômenos que testemunhou em terreiros de Umbanda, finalizou a entrevista, dizendo: “E assim terminou a minha experiência, ou melhor, o meu estudo inesperado do chamado Espiritismo de Umbanda”. Em seu comentário, Jorge Rizzini declarou: “- Chocante expressão, a de um presidente da FEB: Espiritismo de Umbanda! Mas Wantuil de Freitas e quase todos os seus companheiros, estavam, realmente, convencidos, de que havia mesmo ‘Espiritismo de Umbanda’. Pois oito anos antes dessa entrevista radiofônica, - exatamente em maio de 1945 – ele organizou o que chamou de plano das Sociedades Coligadas, ‘convidando ao seio da Federação todas as organizações existentes, desde a Liga Espírita do Brasil (que é 100 % kardecista) até as tendas ‘afro-católicas’, mais esdrúxulas, com as suas excêntricas batucadas”. E, continua Jorge Rizzini, “o plano das Coligadas só não vingou porque o inesquecível jornalista e orador do Rio de Janeiro, Antonio Pereira Guedes - polemista imbatível – combateu-o, imediatamente, pelas colunas do popular jornal ‘Vanguarda’. Não é de se admirar, portanto, que, anos depois da entrevista na Rádio Clube do Brasil, Wantuil de Freitas, novamente hipnotizado pelo fascínio umbandístico, fizesse com que a Federação Espírita Brasileira, através do seu Conselho Federativo Nacional (também presidido e pressionado por ele) divulgasse nos centros espíritas de norte a sul do país que ‘fenômeno mediúnico com ou sem doutrina é Espiritismo’. E mais: ‘doutrinariamente falando, toda prática mediúnica é espírita’, embora nem sempre kardeciana. E ainda mais: “- Umbanda é Espiritismo, mas não é Doutrina Espírita” (págs. 100 e 101).
“Essa declaração estapafúrdia, - prossegue Rizzini - publicada em “O Reformador” de maio de 1966) tivera efeito de uma bomba no meio doutrinário. O Clube dos Jornalistas Espíritas, através de J. Herculano Pires, o Apóstolo de Kardec, veio mais uma vez em socorro da Doutrina Espírita, pois nas colunas do jornal ‘Diário de São Paulo’ (edição de 10/06/1966), escreveu o seguinte: “Uma estranha preocupação com definições doutrinárias manifesta-se nos organismos diretores do movimento de unificação. Quem lê os pronunciamentos de suas comissões de doutrina, chega à conclusão de que, na verdade,
não possuímos uma doutrina codificada, definida e clara. Já é tempo de lembrarmos a esses irmãos, bem intencionados, mas, evidentemente, equivocados, que a Doutrina Espírita é clara e precisa em todos os seus pontos. Por acaso, não foi ela ditada pelo Espírito de Verdade e organizada na codificação pelo bom-senso inigualável de Allan Kardec?
“Ainda agora o Conselho Federativo Nacional da FEB constituiu uma comissão de doutrina para opinar sobre as conclusões dos Simpósios de Curitiba, Salvador, Pará e Goiânia, O resultado foi o lançamento de uma nova ‘bula papalina’ do CFN, com alarmantes e absurdas conclusões.
“Afirmar que fenômeno é doutrina é simplesmente ignorar o sentido desses dois termos. E mais: é ignorar a afirmação de Kardec em ‘O Livro dos Espíritos’, de que os fenômenos pertencem à parte experimental do Espiritismo’, e de que ‘a verdadeira Doutrina Espírita está no ensinamento dado pelos Espíritos’. Se os conselheiros federais, em vez de decidirem pela própria cabeça, lessem a ‘Introdução à Doutrina Espírita’, encontrariam todas as graves questões que os preocuparam já suficientemente esclarecidas pelo Codificador. E não cometeriam os erros palmares que cometeram.
“Outra afirmação do Conselho é que ‘todo umbandista é espírita, mas nem todo espírita é umbandista’. Como se vê, uma confusão primária, que nenhum estudante de Kardec pode aceitar”.
Em seu comentário, disse Rizzini: “ – Oportuna a intervenção de Herculano Pires, mas inútil porque os antigos diretores da FEB, ao invés de ler as obras de Allan Kardec, liam Roustaing... O Apóstolo, no entanto, voltou ao assunto, agora pelo ‘Diário de São Paulo’, a fim de esclarecer o público em geral. O artigo aí publicado intitulava-se ‘Sincretismo Religioso’.
O que disse J. Herculano Pires?
Disse o seguinte: “ – Quanto ao fato de haver médiuns em Umbanda, é preciso compreender que a mediunidade não é uma invenção espírita. Médiuns sempre os houve, em todos os povos e em todas as épocas. Eram médiuns os sacerdotes dos oráculos, as pitonisas, os profetas, como o são os xamãs e os pajés dos povos selvagens ou semi-selvagens atuais. Espiritismo não é mediunismo.
“Que nos perdoem as pessoas ilustres, algumas de projeção no meio espírita, levadas na onda de confusões. O simples fato de se terem deixado envolver demonstra que, indiscutivelmente, não estavam seguras no terreno doutrinário. Um sólido conhecimento espírita não permite a mais leve discrepância nesse sentido. Porque o Espiritismo é uma doutrina espiritual de bases científicas, de estrutura filosófica bem definida e de conseqüências morais ou religiosas enquadradas nas exigências da razão. Uma doutrina, portanto, que não comporta superstições, resíduos do irracionalismo primitivo ou apegos místicos a fórmulas rituais e sacramentais.
“Do ponto de vista doutrinário, é simples absurdo, verdadeira aberração dizer que Umbanda é Espiritismo. Se, por outro lado, encararmos o problema do ponto de vista histórico, a confusão se torna impossível, pois os dados históricos nos mostram que o Espiritismo é uma doutrina recente, formulada na França em meados do século passado (1857), que só se transplantou para o Brasil nos fins daquele século, enquanto que a Umbanda é uma forma de religião primitiva dos negros africanos, que veio para o Brasil com o tráfico negreiro” (J. Herculano Pires, obra citada, págs.101 e 102).
Corroborando o que afirmou o Prof. Herculano Pires, Jorge Rizzini cita o Prof. Deolindo Amorim e o Dr. Carlos Imbassahy (pai), que também abordaram esse tema.
Disse Deolindo Amorim: “Não é cabível qualquer tentativa de fazer equiparação entre Umbanda e Espiritismo, porque as origens, as organizações e as práticas são diferentes” (“O Espiritismo e as doutrinas espiritualistas”, pág. 95 – Edição da FEEPR).
A U.S.E. do Estado de São Paulo, - informa Jorge Rizzini - , não obstante filiada à Federação Espírita Brasileira, enviou a Antonio Wantuil de Freitas um documento com dezesseis páginas, refutando, uma por uma, as absurdas declarações do Conselho Federativo Nacional da FEB.