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UM VEEMENTE APELO

É com o pensamento voltado para o Espírito de Verdade (Jesus), que, neste momento, dirijo um veemente apelo aos dirigentes da F.E.B.

Caros Irmãos.

Ao tomar conhecimento do Espiritismo, Roustaing, que vivia e trabalhava como advogado em Bordéus, em março de 1861 escreveu uma carta a Kardec, demonstrando sua enorme satisfação por ter lido “O Livro dos Espíritos”, iniciando assim seus estudos da Doutrina Espirita. Aproveitando o ensejo, perguntou-lhe se conhecia em Bordéus algum centro espírita que pudesse freqüentar.

Em resposta, Kardec lhe indicou o do Sr. Sabo, que Roustaing passou a freqüentar, ficando imensamente radiante com o que viu e aprendeu ali.

Meses depois, em junho escreveu nova carta a Kardec, em que demonstrou inteira satisfação por ter conhecido e compreendido a reencarnação com todo o seu alcance e todas as suas conseqüências, como realidade, ou seja, como “sublime e eqüitativa justiça de Deus”.

Roustaing, no final de sua carta, não só se dirigiu, afetuosamente ao Mestre, chamando-o de “meu caro senhor” como, ao mesmo tempo, demonstrou seu desejo de ir a Paris, para o conhecer pessoalmente, só não o tendo feito ainda por motivo de saúde, pois estava em convalescença. E concluiu, dizendo que se sentia honrado em se declarar publicamente Espírita.

Kardec leu  essa carta e ficou impressionado com o que estava escrito. Chegou mesmo a fazer o seguinte comentário elogioso: “Vê-se que, embora iniciado recentemente, o Sr. Roustaing passou a mestre”. É claro que havia um certo exagero nas palavras do Mestre lionês, que via então no advogado de Bordéus um amigo sincero.

Entretanto, esse “amigo”, com quem o Mestre vinha se correspondendo, fez questão de não ir à Estação dar as boas vindas a Kardec, quando este, atendendo a convite do Sr. Sabo, chegou a Bordéus, para, com sua presença ilustre, participar da inauguração da Sociedade de Estudos Espiritas local, após uma reunião geral realizada no dia 14 de outubro de 1861, em que foi efusivamente homenageado pelos espíritas bordelenses.

Dois meses depois, Roustaing veio a conhecer a médium, Sra. Émilie Collignon, que lhe entregou as comunicações, que serviram de base e estrutura para o livro “Os Quatro Evangelhos” ou “Revelação da Revelação” que leva a assinatura de Roustaing.

Essa obra foi publicada à revelia de Kardec, que só tomou conhecimento dela, quando já estava à venda na livraria.

Ao receber um exemplar que lhe mandou, a título de cortesia, seu amigo Roustaing de Bordéus, é claro que o Mestre ficou bastante constrangido em comentá-la. “Ao lado de coisas duvidosas”, disse Kardec, “encerra outras incontestavelmente boas e verdadeiras. “Chegou mesmo a declarar que era um “trabalho considerável”, que poderia mesmo ser lido e estudado. Mas deixou bem claro que se tratava apenas de “opiniões pessoais”, que precisavam passar pela “sanção do controle universal”, motivo pelo qual, até mais ampla confirmação, não poderiam ser consideradas como partes integrantes da doutrina espírita”. 

Para Kardec, Roustaing “havia tratado de certas questões que não era oportuno abordar ainda (...) Quando tratarmos delas, -  acrescentou - fá-lo-emos de modo decidido. É que então teremos recolhido documentos bastante numerosos nos ensinos dados de todos os lados pelos Espíritos...”

E de fato isto aconteceu. Assim, em janeiro de 1868, Kardec publicou seu último grande livro: “A Gênese”. É que, “depois de ter estabelecido as bases teóricas e práticas da doutrina, cabia-lhe interpretar o Antigo e o Novo Testamento segundo o Espiritismo”, como disse seu biógrafo André Moreil.

Não nos cabe aqui fazer um estudo comparativo entre o que adiantou Roustaing em “Os Quatro Evangelhos” e o que Allan Kardec, assistido pelo Espirito de Verdade, afirmou em “A Gênese”.

A propósito, cabe lembrar uma entrevista que o médium Chico Xavier concedeu em Uberaba/MG, em 8 de julho de 1987, ao completar sessenta anos de mediunidade de completa dedicação à Doutrina Espirita: “ Lembro-me de que Emmanuel, ao me prevenir que pretendia trabalhar ao meu lado, por tempo longo, declarou que eu deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus e as lições de Kardec. Eu deveria permanecer com Jesus e Kardec, procurando esquece-lo”.

O mesmo médium Chico Xavier foi quem recebeu também, anos mais tarde, do Espirito do Dr. Bezerra de Menezes, cognominado o “médico dos pobres”, uma mensagem intitulada “KARDEC E VIDA”, em que começa dizendo: “Jesus nos trouxe a verdade, Kardec, porém, nos trouxe a interpretação. Daí o nosso dever de comunicar Allan Kardec a todos os setores da vida individual e coletiva, razão pela qual nos reconhecemos na obrigação de reafirmar que KARDEQUIZAR É A LEGENDA DE AGORA”. E explica, exaustivamente, o que entende por “kardequizar”.

Aí está, prezados irmãos da Federação Espírita Brasileira, a única razão deste meu apelo: se foi o próprio Allan Kardec que disse que não considerava “Os Quatro Evangelhos” de Roustaing como obra complementar da Doutrina Espírita; se foi o Espírito Emmanuel que afirmou que, em caso de dúvida, devemos continuar com Kardec e não com ele; se foi o Espírito de Bezerra de Menezes que disse que kardequizar é a legenda de agora; por que não se tira, de uma vez  por todas, do Estatuto da F.E.B. o parágrafo único do seu artigo 1º que considera a obra de Roustaing como complementar às da Codificação?!

Por que, se ele contraria a vontade dos profitentes da Doutrina Espírita, os mesmos que se reuniram em assembléia geral para reformar esse Estatuto e enquadrá-lo no novo Código Civil Brasileiro?  Estavam eles dispostos a fazer o expurgo desse pomo de discórdia, que só foi mantido por força de uma liminar da justiça dos homens, quando só se deveria levar em consideração a vontade da maioria, o consenso universal através de uma votação livre e democrática!

Irmãos, onde está o bom senso? Onde, a lógica e a razão, apregoadas pelos Espíritos Superiores, através do seu porta-voz, o Mestre Allan Kardec, o “bom senso encarnado”?! Onde?!...

Disse certa vez o Espirito de Verdade: “... São chegados os tempos em que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos”.

Sim, companheiros, é chegada a hora da mudança, da grande transformação. Mas, para que isso aconteça, é preciso que haja humildade, o que toda a comunidade espírita espera dos senhores.

Que Deus os abençoe e o Espírito de Verdade os proteja, ilumine e oriente, para que a nossa querida Doutrina Espírita seja realmente engrandecida sob todos os aspectos.

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