“Em dezembro de 1861”, - prossegue ele – “foi-me sugerido ir à casa de Mme. Collignon, que eu não tinha a satisfação de conhecer, e a quem devia ser apresentado para apreciar um grande quadro mediunicamente desenhado (...) Lá fui. Oito dias depois voltei à casa de Mme. Collignon, com o intuito de lhe agradecer o acolhimento que me dispensara antes (...) No momento em que me preparava para sair, Mme. Collignon sentiu na mão a impressão e agitação fluídicas, indicadoras da presença de um Espírito desejoso de se manifestar. (Ela ficou na dúvida, sem saber se deveria escrever ou não). A instâncias minhas, condescendeu em se prestar à manifestação mediúnica. Então, no mesmo instante, sua mão, fluidicamente dirigida, pôs-se a escrever uma mensagem que foi assinada pelos Espíritos dos Evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João, que estavam ali assistidos pelos Apóstolos ...”
O objetivo desses Espíritos era incitar Roustaing a empreender a explicação dos Evangelhos de Jesus, a qual deveria dar o nome de Revelação da Revelação. E, ao concluir, declararam: “ – Quando todos os materiais (que chegarem às suas mãos) estiverem reunidos, (...) sereis por nós prevenidos de que é chegada a hora de sua publicação em forma de livro”. Envaidecido por ter sido escolhido, Roustaing “meteu ombro à tarefa”.
Assim, em maio de 1865, todos os materiais que lhe chegaram às mãos, vindos de Mme. Collignon, estavam preparados. Foi então que ele resolveu publicar a obra, que tomou o título de “Os Quatro Evangelhos”. (Fonte: Prefácio da “Revelação da Revelação” ou “Os Quatro Evangelhos” de Roustaing)
João Batista Roustaing que, como se viu, até meados de 1861 se honrava de ser espírita e chegou a manter correspondência fraterna com o Mestre lionês, a partir de 1º de julho, entretanto, mudou, completamente, de atitude. É que, como ele próprio declarou, foi “mediunicamente prevenido da época em que poderia e deveria publicar comunicações” que uma médium estava recebendo e que lhe seriam entregues, posteriormente, quando entrasse em contato com ela, o que se deu no final do ano. Tratava-se de Mme. Émillie Collignon.
A partir de então, deixou de manter relacionamento epistolar com seu “honrado chefe Espírita”, e fez mesmo questão de não participar das homenagens que lhe foram prestadas, quando Allan Kardec, a convite do Sr. A. Sabo, presidente do mesmo centro espírita que ele, Roustaing, freqüentava, esteve em Bordéus para participar da inauguração da Sociedade Bordelense de Estudos Espíritas. Comportamento bastante estranho e contraditório, já que, em sua última carta ao Mestre havia lamentado não poder ir a Paris para “conhecê-lo, pessoalmente e fraternalmente lhe apertar a mão”, o que não era possível fazer por motivo de saúde, pois estava convalescendo de uma doença grave e prolongada. (Carta de junho de 1861 – Edicel, pág. 182)
A verdade é que fez tudo à revelia de Allan Kardec. Não lhe contou nada em relação às comunicações que vinha recebendo em casa, como também nada lhe disse sobre seu encontro com Mme. Collignon e a mensagem que esta recebeu “a instâncias suas”, quando se despedia da médium. E, à medida que os anos foram se passando, Roustaing continuava, trabalhando sozinho, sem dar a mínima satisfação ao Mestre e seu “honrado chefe espírita”. Que grande auxiliar foi esse, que, segundo declarou o Espírito de Humberto de Campos, pela psicografia de Chico, tinha vindo para “coadjuvar” o Codificador! Sim, que grande auxiliar foi Roustaing.!...
Allan Kardec só veio a tomar conhecimento do trabalho de Roustaing, quando este, em meados de 1866, ou seja, em junho desse ano, lhe enviou a obra “Os Quatro Evangelhos”, ou “Revelação da Revelação”, que acabara de publicar.
Kardec leu, encontrou alguma coisa boa nas explicações dadas pelos Espíritos que se comunicaram através da mediunidade de Mme. Collignon, mas, no seu conjunto, não gostou nada, considerando-as “opiniões pessoais” dos Espíritos que as formularam. Deveriam, pois, “passar pela sanção do controle universal”. Por isso mesmo, “até mais ampla confirmação, não poderiam ser consideradas como partes integrantes da Doutrina Espirita”. (Ver “Revista Espirita” de junho de 1866 – Edicel, pág. 180).
Dois anos depois, ao publicar sua última obra “A Gênese”, sob a assistência do Espírito de Verdade, seu Guia Espiritual, deu um golpe final no roustainguismo. Este só não desapareceu completamente, porque, aqui, no Brasil, um grupo de carolas, conhecidos como “os pioneiros do Espiritismo” o trouxeram para o Brasil, e fundaram isto que aí está há mais de cem anos: a Federação Espirita (Roustainguista) Brasileira e seu Conselho Federativo Nacional, conivente com ela.