“KARDEC COMEMORA DIA DE FINADOS? “
Com este título, o Sr. Jorge Damas Martins, roustainguista declarado, em artigo publicado na edição do jornal “Correio Fraterno” de setembro/outubro, pág. 7, disse o seguinte: “Há quem possa estranhar, mas Kardec, por muito tempo, teve hábito de comemorar o dia dos mortos, como denominavam na época. Por respeito aos Espíritos espíritas que desencarnaram, e não por mero atavismo religioso. Embora em registros formais se tenha informações de que o Codificador comemorasse a data a partir do ano de 1864, desde 1857 ele a considerava e em torno dela se reunia com seus irmãos da Sociedade de Paris. No entanto, a partir de 1864, Kardec os convoca, formalmente, a refletir na oportunidade da reunião, reunindo, pela força do pensamento, encarnados e desencarnados”. E, para comprovar o que afirma, fez transcrever o pequeno trecho inicial do discurso que Kardec pronunciou na Sociedade Espírita de Paris, que, pela primeira vez se reuniu no dia 2 de novembro, “visando a oferecer uma piedosa lembrança a seus falecidos colegas e irmãos espíritas”. Transcrevemos também aqui esse primeiro trecho do discurso do Mestre lionês:
“Caros irmãos e irmãs espíritas.
“Estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para dar àqueles dos nossos irmãos que deixaram a terra, um testemunho particular de simpatia, para continuar as relações de afeição e de fraternidade, que existiam entre eles e nós, enquanto vivos, e para chamar para eles a bondade do Todo-Poderoso...”
E Kardec explica qual é a utilidade dessa reunião comemorativa, dizendo: “Ela é o índice da necessidade que experimentamos ao nos acharmos juntos numa comunhão de pensamentos.” E, para que não pairasse nenhuma dúvida, fez questão de frisar: “Comunhão de pensamentos! Compreendemos bem todo o alcance desta expressão (...) quer dizer pensamento comum, unidade de intenção, de vontade, de desejo, de aspiração. Ninguém pode desconhecer que o pensamento é uma força. É, porém, uma força puramente moral e abstrata? Não: do contrário não se explicariam certos efeitos do pensamento, e, ainda menos, da comunhão de pensamento. Para compreendê-lo é preciso conhecer as propriedades e a ação dos elementos que constituem nossa essência espiritual, e é o Espiritismo que no-las ensina...”
Em seguida o Mestre disserta sobre a importância de uma reunião geral: “Uma assembléia é um foco onde irradiam pensamentos diversos; é como uma orquestra, um coro de pensamentos, onde cada um produz a sua nota. Disto resulta uma porção de correntes e de eflúvios fluídicos dos quais cada um recebe a impressão dos sons pelo sentido da audição...” E, para deixar bem claro o motivo da sessão dedicada ao dia dos mortos, Kardec diz; “As reuniões que têm por objeto a comemoração dos mortos repousam na comunhão de pensamentos. Para compreender a sua utilidade, era necessário bem definir a natureza e os efeitos dessa comunhão...”
A íntegra desse belo discurso do Codificador se encontra na Revista Espírita de dezembro de 1864 (EDICEL, págs. 351 a 356).
E o Sr. Jorge Damas Martins conclui seu artigo dizendo: “A comemoração do dia dos mortos não permaneceu como prática no meio espírita, por levar em consideração que os Espíritos atendem ao chamado do pensamento nesse dia, como nos outros, valendo sempre, e em qualquer lugar, a boa lembrança dos que já retornaram ao plano espiritual”.
A propósito, lembro-me bem que meu pai, Severino de Freitas Prestes Filho, nas reuniões de estudo da Doutrina Espírita que fazíamos em casa, (a princípio diariamente e depois, três vezes por semana), sempre fazia uma referência especial aos Espíritos de pessoas já desencarnadas (amigos e parentes). Na que era realizada no Dia dos Mortos ou Dia de Finados, ele sempre fazia questão de frisar bem que, para nós, espíritas, a vida humana (no corpo físico), tinha importância relativa e que os chamados “mortos” ou “finados” continuavam tão vivos quanto nós. E é a eles que devemos continuar sempre dirigindo a nossa atenção, principalmente, - é claro -, nesse dia, tradicionalmente dedicado a eles”.