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O ROUSTAINGUISMO E O CATOLICISMO

 

                Sobre o desenvolvimento da mediunidade, eis o que se pode ler em “Os Quatro Evangelhos” de J. B. Roustaing: “A mediunidade dos que, entre vós, servem de instrumentos aos Espíritos, está apenas em começo. Mas, contrariamente ao que sucedeu na época dos discípulos, os vossos médiuns só entrarão no gozo completo de suas faculdades  mediúnicas, quando estiver entre os homens o Regenerador, (Grifo nosso) Espírito que desempenhará a missão superior de conduzir a humanidade ao estado de inocência, isto é: ao grau de perfeição a que ela tem de chegar. Até lá, obterão somente fatos isolados, estranhos à ordem comum dos fatos.

                “Não nos cabe fixar de antemão a época em que tal se verificará. O Senhor disse: - vigiai e orai, porquanto desconheceis a hora em que soará retumbante a trombeta, fazendo que de seus túmulos, saiam os mortos. Quer dizer: desconheceis a hora em que Deus fará que renasçam materialmente na Terra os Espíritos elevados, incumbidos de dar impulso às virtudes que eles descerão a pregar, praticando-as em toda a sua extensão.

                “O chefe da Igreja católica, (o Papa) nessa época em que este qualificativo terá a sua verdadeira significação, pois que ela, (a igreja católica) estará em via de tornar-se universal, como sendo a igreja do Cristo, o chefe da igreja católica, dizemos (repetindo), será um dos principais pilares do edifício (grifo nosso). Quando o virdes, cheio de humildade, cingido de uma corda e trazendo na mão o cajado do viajante, podereis dizer: - Começam a despontar os rebentos da figueira; vem próximo o estio.

                “Entendemos por missão superior aquela que objetiva a regeneração da humanidade e que pelo seu conjunto e pela sua força, se estenderá, dominando a ação de todos os outros missionários. Podeis daí deduzir, facilmente, que o Espírito que desempenha uma missão superior está acima de todos quantos, como ele, trabalham na realização de uma obra humana.

                Debaixo da influência e da direção do (Espírito) do Regenerador, caminhará o chefe da Igreja católica, a qual, repetimos, será então católica na legítima acepção deste termo, pois que estará em via de tornar-se universal, como sendo a Igreja do Cristo...” (Grifo nosso) (Ver “Os Quatro Evangelhos”, de J. B. Roustaing, vol. 3, págs. 65 e 66 – Editora da FEB – 5ª edição – Ano de 1971 – Tradução de Guillon Ribeiro) 

             OBS. As letras em “itálico” são do autor.

NOSSO COMENTÁRIO

Como se vê, para Roustaing, os médiuns que, em meados do séc. XIX, puseram-se a serviço da gloriosa Falange do Espírito de Verdade, a começar por aqueles com quem trabalhou Kardec, estavam se iniciando no mediunato. Eram novatos, aprendizes, estagiários. Por conseguinte, deixavam muito a desejar. Tinham ainda muito que aprender, muito que se exercitar, para merecerem crédito. Por sua vez, o Espírito de Verdade (Jesus), cujas sábias instruções e mensagens aparecem muitas vezes nas obras do grande Missionário lionês, para Roustaing perdeu completamente o seu valor, a ponto de ser substituído por um outro, um tal de “Regenerador”, que, - este sim – “desempenhará a missão superior de conduzir a humanidade a grau de perfeição a que ela tem de chegar”. Pode-se concluir então que o que o Espírito de Verdade disse no “Prefácio” e no cap. VI, ns. 5 a 8 de “O Evangelho segundo o Espiritismo, não vale nada. Foi superado. Da mesma forma, para Roustaing,, perdeu completamente o seu valor  o que Allan Kardec transcreveu no cap. VI, ítem 4 do referido livro: “O Espiritismo vem, na época predita, cumprir a promessa do Cristo: preside ao seu advento o Espírito de Verdade”.  (Grifo nosso)

                Roustaing deixou bem claro que não cabe a ele nem aos Espíritos reveladores “fixarem de antemão a data do aparecimento na Terra do Espírito do Regenerador”. Isto porque “ainda não havia chegado aos ouvidos humanos o som retumbante da trombeta, capaz de despertar os mortos”, fazendo-os sair dos respectivos túmulos cavados nos cemitérios. Por outro lado, para Roustaing, os homens do séc. XIX desconheciam a hora em que Deus iria permitir que os Espíritos superiores se manifestassem ou  reencarnassem para pregarem e praticarem as “virtudes” em toda a sua extensão. Fica claro que, para Roustaing,  os Espíritos que se manifestaram, direta ou indiretamente, a Kardec, ainda não haviam se apresentado ao grande Missionário.  Estavam aguardando  o som da trombeta.

                Mas, algo que nos causou bastante dificuldade de entendimento, foi o fato de Roustaing declarar que cabe ao Regenerador  conduzir a humanidade ao estado de inocência, isto é, ao grau de perfeição a que ela (a humanidade) tem de chegar um dia”. Ora, segundo o dicionário, “inocência é a qualidade de inocente; é a falta de culpa de quem nunca errou; é caracterizada pela candura e pureza de expressão, pela simplicidade e pela ingenuidade, o que se dá, geralmente, com a criança, ser pequenino e frágil, que mal começou a viver no corpo de carne e osso. Com o passar dos anos, ela vai seguindo sua vida, atravessando outras fases, errando e acertando, agindo bem ou mal, sentindo  remorsos ou não, tendo ou não sentimentos de culpa pelas faltas cometidas. E pede desculpas ou mesmo perdão, chegando mesmo a fazer promessas de que não vai reincidir nos atos maus praticados contra seus semelhantes. E assim vai evoluindo, gradativamente, até chegar ao grau de quase perfeição que deve atingir, de acordo com a lei de evolução... A meu ver “estado de inocência” e “grau de perfeição” se contradizem.

                Agora, o mais grave que encontrei nesse trecho de “Os Quatro Evangelhos”, foi o panegírico que Roustaing fez em relação ao Catolicismo e ao Papa. Para ele, a Igreja Católica será um dia “universal” e assim se tornará a legítima “Igreja do Cristo”, dando-lhe, simbolicamente, a forma de um grande “edifício” (uma  catedral, naturalmente). Por sua vez, seu chefe, o Sumo Pontífice ou Papa, será um dos “pilares” desse edifício e caminhará sempre sob a influência e a supremacia do “Regenerador”. Colocou assim de lado (em escanteio) o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo, do qual nos fala Humberto de Campos (Espírito) no célebre livro intitulado “Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho”, (pág. 176 da 11ª edição da FEB). Parece mesmo que os dois papas (João Paulo II e Bento XVI), que vieram em visita ao Brasil, estavam mesmo sob a orientação e proteção  desse tal “Regenerador”, Espírito superior anunciado por Roustaing. Por isso tornou-se comum nos centros e nos congressos, rezar-se e ouvir-se “a Ave Maria”. O próprio Chico deu exemplo dessa prática.