Encontrando-se certa vez com seu amigo, Sr. Fortier, este lhe disse que a moda então era ver nos salões as mesas que giravam e falavam, respondendo às perguntas dos presentes. Isto se deu em 1854, e Kardec já estava na meia idade. É claro que, como cientista, ouviu tudo com muita reserva, muita desconfiança. Tempos depois, foi o Sr. Pâtier, seu velho amigo, que voltou a tocar no assunto, recebendo também de Kardec a mesma reação de desconfiança. Mas, desta vez, aceitou um convite para assistir às experiências que se realizavam na casa da Sra. Plainemaison. E foi, muito desconfiado ainda e cheio de interrogações. Mas, observando que os fenômenos transcorriam dentro de muito rigor e seriedade, a ponto de não deixarem lugar para qualquer dúvida, sentiu logo que havia ali uma coisa de grande seriedade, como que a revelação de uma nova lei, que merecia um estudo aprofundado e rigoroso. E foi isso que resolveu fazer, aplicando o método científico de trabalho, com o qual estava acostumado desde jovem.
Assim foi sua iniciação no Espiritismo. E isto ocorreu na segunda metade do séc. XIX.
Anos, mais tarde, em 1910, portanto, no inicio do sec. XX, segundo Marlene Nobre e outros, Kardec reencarnou na pessoa de Chico, e é ele próprio quem nos conta como se deu sua primeira iniciação no Espiritismo.
"Desde pequeno, quando eu tinha uns cinco anos de idade, comecei a sentir a presença dos Espíritos e a vê-los, constantemente, onde quer que eu me encontrasse, em casa, na rua, na igreja, principalmente na igreja, onde, por ser de família muito católica, eu ia sempre, para assistir aos ofícios religiosos, receber a bênção e fazer a comunhão. Só me afastei das práticas religiosas católicas, em 1927, portanto, com dezessete anos , quando passei a praticar a mediunidade. Mas antes, tive o cuidado de procurar o padre Sebastião Scarzelli, meu confessor, para comunicar a decisão que eu tomara de me dedicar ao Espiritismo. E, no momento da despedida, que foi muito comovente, pedi-lhe que me abençoasse e continuasse orando por mim, como sempre fazia, e, ao mesmo tempo pedisse à Nossa Mãe Santíssima, a Virgem Maria, que também me abençoasse, sendo atendido com toda a boa vontade pelo querido sacerdote. (Ver as Entrevistas de Chico Xavier).
Lemos ainda em "Obras Póstumas" que o Guia Espiritual de Allan Kardec foi o Espírito de Verdade , com quem dialogou na sessão espírita realizada em casa do Sr. Baudin, em 25 de março de 1854. E Kardec nos disse que soube depois que se tratava de um Espírito de ordem muito elevada, que desempenhou na Terra um papel muito importante. ("O Livro dos Médiuns", cap. V, nº 86 da parte II). Portanto, isto ocorreu no séc. XIX.
Já no séc. XX, quando, segundo Marlene Nobre, Kardec reencarnou na pessoa do Chico, este, por várias vezes, se referiu ao seu Guia Espiritual, como sendo o padre jesuíta Manoel da Nóbrega, aquele mesmo sacerdote que, em meados do século XVI, participara da Expedição Colonizadora de Tomé de Souza, que aqui chegou em 1549. Nóbrega, por ser muito influente na Corte, foi nomeado Provincial das Terras de Santa Cruz, e aqui, além de fundar o Colégio dos Jesuítas de São Paulo, dedicou-se também à catequese forçada dos índios. Ao mesmo tempo colaborou bastante com os colonos ambiciosos, que vieram para o Novo Mundo, com o objetivo precípuo de enriquecer à custa do braço escravo dos índios e dos negros. (Ver "Chico Xavier, na Televisão" Edição Capemi, pág. 29 e "História do Brasil" de Pedro Calmon). E foi o Espírito desse jesuíta que, no séc. XX, tomou o pseudônimo de Emmanuel, com o qual é mais conhecido o Guia Espiritual do médium mineiro Chico Xavier. Que diferença, eim?!...