ERASTO E A MISSÃO DOS ESPÍRITAS
Este foi o tema da palestra que proferimos no Centro Espírita “Amor e Caridade”, de Cabo Frio/RJ, na noite do dia 28 de julho de 2006.
Inicialmente, mostramos que houve no séc. I da Era Cristã dois homens com o mesmo nome: Erasto. Um era um jovem, natural de Éfeso, de família pobre, simples e humilde, que se converteu ao Cristianismo ao ouvir uma das pregações de Paulo, o Apóstolo dos Gentios, em praça pública. É a ele que Lucas faz referência nos Atos dos Apóstolos, cap. XIX, v. 22: “E, enviando à Macedônia dois daqueles que o serviam, Timóteo e Erasto, ficou ele (Paulo) na Ásia”. O outro era um cidadão da classe média, natural de Corinto, onde, por pertencer a uma família importante e de grande influência econômica e política, exerceu cargos da administração pública local: foi Procurador e Tesoureiro da cidade. Certa vez, quando foi à sinagoga, local de reunião dos rabinos e doutores da lei, teve oportunidade de assistir à pregação de Paulo, dizendo que Jesus era o Messias prometido pelos profetas e foi seu Espírito que ele viu e com quem falou, quando estava a caminho de Damasco.
É claro que os judeus ali reunidos não aceitaram o que Paulo lhes disse, e, bastante exaltados, se revoltaram, vaiando-o, ofendendo-o e o ameaçando de morte. Erasto, ao contrário, aceitou o anúncio de que Jesus era mesmo o Messias tão esperado e tentou apaziguar os ânimos. Mas não conseguiu e Paulo teve que se retirar do recinto com sua ajuda.
É a esse Erasto, Procurador de Corinto, que Paulo se refere em sua Epístola aos Romanos (cap. XVI, v. 23) e na Segunda Epístola dirigida a Timóteo (cap. IV, v. 20).
Apesar de ter se pronunciado a favor de Paulo, Erasto continuou gozando de prestígio em Corinto e depois veio a ser nomeado Bispo de Filipos, quando, por ordem do Imperador romano, foi perseguido, preso, torturado e morto. Foi, depois, canonizado, sendo reverenciado como santo no dia 26 de julho, de acordo com o calendário da Igreja, como nos informa Mário Sgarbossa, no livro “Os Santos da Igreja” – Edições Paulinas – pág. 422.
Nesse momento da palestra, fizemos referência ao romance histórico “Paulo & Estêvão”, ditado por Emmanuel e psicografado por Chico Xavier, no qual não encontramos nada em relação a Erasto.
No entanto, fazendo uma pesquisa nas obras da Codificação Espírita, vimos que Allan Kardec fez muitas referências elogiosas a Erasto, Discípulo de São Paulo, em “O Livro dos Médiuns”, deixando bem claro que suas comunicações trazem o cunho incontestável da profundeza e da lógica.
Em seguida, falamos das viagens de Kardec a Lyon, sua cidade natal e a Bordéus, onde foi muito bem recebido e muito homenageado pelos espíritas.
Neste momento da nossa palestra, fizemos questão de frisar que J. B. Roustaing, em Bordéus, fez questão de não ir à estação ferroviária dar as boas vindas a Kardec, nem participou das homenagens que lhe foram prestadas, na reunião geral da instalação da Associação Bordelense de Estudos Espíritas e no banquete que foi oferecido ao ilustre visitante.
Frisamos que não havia razão para Roustaing não participar, já que se tratava de um acontecimento tão importante naquela comunidade. Por outro lado, Roustaing, em carta a Kardec o havia tratado como “honrado chefe espírita”, deixando, portanto, bem claro que ele, Roustaing, era um simples subordinado, e, como tal, tinha o dever de cumprimentar e prestar honras e homenagens ao seu superior hierárquico. O próprio Roustaing, também por carta, havia demonstrado o desejo de ir, pessoalmente, a Paris, para “... ter o prazer de conhecer, pessoalmente, Kardec, e, fraternalmente, lhe apertar a mão” (Ver Revista Espírita, junho de 1861 – Edicel, p. 182). Finalmente, tratava-se de receber e homenagear um visitante ilustre, pois Allan Kardec, não só era um conceituado educador, como principalmente, o Missionário da Terceira Revelação.
Por conseguinte, não havia razão para Roustaing se omitir. Mas, na verdade, ele se omitiu.
Na minha palestra, procurei levar aos presentes os motivos que o levaram a omitir-se.
Primeiramente, na Epístola que Erasto dirigiu aos espíritas de Bordéus, que Kardec foi encarregado de ler e o fez com muita satisfação, como ele próprio confessou, Erasto disse: “ – Não temais desmascarar os embusteiros, novos Tartufos, que se infiltrarão entre vós (...) Tereis que lutar contra a turba dos Espíritos enganadores, que tudo farão para semear a divisão entre vós (...) em breve virão assaltar-vos com comunicações abertamente hostis aos ensinos dados pelos verdadeiros missionários do Espírito de Verdade...” Depois, procurando justificar sua maneira imperativa de expor seu pensamento, declarou: “ - Tive que vos falar assim, porque era necessário vos premunir contra um perigo, que era meu dever assinalar; venho cumpri-lo”.
No final de sua Epístola, Erasto deixou bem claro que falava em nome do Espírito de Verdade.
“Pois bem, caros irmãos, a que perigo Erasto estava se referindo”, perguntamos aos presentes? E nós mesmos respondemos: - Estava se referindo ao aparecimento de “Os Quatro Evangelhos”, que já estava para entrar em gestação, desde aquele dia em que Mme. Collignon, em sua residência, em dezembro de 1861, entregou a Roustaing aquela mensagem ditada pelos pseudo-Evanglistas (Mateus, Marcos, Lucas e João), em que ficou bem claro que Roustaing deveria publicar a “revelação da revelação”.
Depois, para reforçar meus argumentos, citei, em minha palestra, aquelas instruções importantes, de 1862, ditadas por Erasto, pela psicografia do Sr. d’Ambel, que Kardec colocou no cap. XXI de “O Evangelho segundo o Espiritismo” (ns. 9 e 10). Nelas Erasto lançou um brado de alerta contra os “falsos profetas encarnados e desencarnados”, dizendo: “ – Desconfiai dos falsos profetas, máxime numa época de renovação, qual a presente, porque muitos impostores se dirão enviados de Deus” – “Para melhor fascinarem aqueles a quem desejam iludir, para darem mais peso às suas teorias, se apropriam, sem escrúpulo, de nomes sagrados, que só com muito respeito os homens pronunciam...”
Em seguida, lemos na íntegra a Instrução de Erasto, intitulada “Missão dos Espíritas”, em que Erasto, entre outras coisas disse:
“ – Lançai-vos em cruzada contra a injustiça (...) Ide, e proscrevei esse culto do bezerro de ouro que cada dia mais se alastra (...) Que importam as emboscadas que vos armem pelo caminho ?! (...) Àvante, falange imponente pela tua fé (...) Parti, cheios de coragem (...) Ide, e pregai a palavra divina...” (cap. XX, nº 4 do Evangelho s/o Espiritismo)
Terminada a leitura dessa belíssima comunicação de Erasto, fizemos os nossos comentários, destacando os pontos que, em nossa opinião, julgamos os mais importantes.
Concluímos então nossa palestra, dizendo: “ – Aí está, prezados irmãos, o caminho que Erasto nos aponta para seguirmos em frente na estrada do progresso moral e espiritual.
“Não podemos ficar parados, inativos, indiferentes a tudo e a todos. Temos que dar sempre exemplos de solidariedade, de compreensão, de boa vontade em prol dos nossos semelhantes. Mas, por outro lado, temos também que nos dedicar de corpo e alma, à divulgação do Espiritismo; sim, do verdadeiro Espiritismo, codificado pelo Mestre Allan Kardec, que não é esse roustainguismo, que a FEB e seu Conselho Federativo Nacional, amordaçado pelo “Pacto Áureo”, defendem; esse roustainguismo que o grande Missionário de Lyon proscreveu de vez, ao lançar, em 1868, sua última obra “A Gênese”.
“Para isso temos que estudar muito as obras básicas do Espiritismo. Pois só assim teremos condições para enfrentar os adversários, não fugindo nunca da discussão, da polêmica, como prescreveu o Mestre lionês, quando afirmou: “ – Há uma polêmica, ante a qual jamais recuaremos: é a discussão séria dos princípios que professamos”. (Revista Espírita, nº 11 de dezembro de 1858).
“Lembremo-nos também , meus irmãos, da Instrução do luminoso Espírito São Luiz que disse: “ – A ninguém é proibido ver o mal, quando esse mal existe (...) Desmascarar a hipocrisia e a mentira é um dever que temos que cumprir..” ( “Evangelho segundo o Espiritismo”, cap. X, ns. 20 e 21)
“Esta é a nossa missão; sim, a MISSÃO DOS ESPÍRITAS, como nos ensinou Erasto, Discípulo de S. Paulo”.
Este foi o recado que demos aos confrades do Centro Espírita “Amor e Caridade” de Cabo Frio, na reunião pública da noite do dia 28 de julho de 2006, graças à boa vontade e compreensão dos dirigentes da sua Diretoria, entre os quais destaco a pessoa do Sr. Antonio da Silva Melo (o Melinho), nosso querido amigo.
NOTA IMPORTANTE.
Devo acrescentar que dediquei essa minha exposição ao Espírito de meu querido e saudoso pai e mestre, Severino de Freitas Prestes Filho, que, em nossas palestras em família, sempre falou com muita admiração do luminoso Espirito de Erasto, aquele que, no séc. I foi Discípulo de Paulo e no séc. XIX foi Guia e Mentor de Allan Kardec. Nas reuniões de estudo do Evangelho no lar, que fazíamos em casa, papai sempre abria e encerrava os trabalhos, referindo-se a Erasto, com muito respeito e carinho, tratando-o como “seu Guia muito amado”. Foi em homenagem a Erasto, que fui registrado com esse nome, o que me dá muita honra.