“UM ASPECTO ABANDONADO” DO ESPIRITISMO
Em artigo publicado no jornal espírita “CORREIO FRATERNO DO ABC”, edição de junho de 1983, a professora Lúcia Amaral Kfouri deixou bem claro que o aspecto científico do Espiritismo, ao qual Allan Kardec deu tanta ênfase, encontra-se deveras “abandonado”.
Por ser muito longo esse artigo, não vamos transcrevê-lo na íntegra. Deter-nos-emos em alguns pontos que consideramos bastante importantes.
Diz ela, por exemplo: “A Doutrina Espírita, como é sabido, possui três ângulos igualmente importantes: religião, filosofia e ciência...” Realmente, como bem o definiu Allan Kardec, “o Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência ele consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, compreende todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações”. Em outras palavras: “O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, da origem e do destino dos Espíritos, e das suas relações com o mundo corporal” (“O Que é o Espiritismo” – Preâmbulo).
Como se vê, ao definir o Espiritismo, o ilustre Missionário lionês não usou a palavra “religião” e sim os termos: ciência, filosofia e moral. Portanto, no meu entendimento, Lúcia Kfouri inverteu a ordem, colocando o aspecto religioso em primeiro lugar e o científico, em último.
Nesse ponto, parece que ela se deixou influenciar pelo pensamento de Emmanuel (ex-padre Nóbrega), que, tomando como símbolo um triângulo, colocou no vértice superior o aspecto religioso (religião), ficando a ciência e a filosofia (moral) na parte inferior, como está no livro “O Consolador”.
Mas, isto não vem ao caso. O importante é que ela, Mme. Kfouri, fiel ao pensamento de Allan Kardec, deixou bem claro que “procura incentivar os companheiros (espíritas) para que não se atenham somente ao lado religioso mas também ao lado científico do Espiritismo”, o que, segundo ela, não vem ocorrendo no nosso movimento.
Outro aspecto importante do seu artigo é quando ela diz: “Nos tempos de Kardec, Lombroso, Crookes, Delanne e outros, vivia-se então, verdadeiramente, o aspecto científico da nossa Doutrina. Hoje, porém, deixamos de lado esta parte (...) No entanto, a mediunidade aí está para que continuem a investigá-la (...) Mas contentamo-nos em repetir a todo o momento que o Espiritismo é também uma ciência, esquecendo que a ciência para nós estacionou há muitos e muitos anos.
“E no entanto uma ciência não pode jamais estacionar. Novas descobertas estão sendo feitas quase que diariamente (...) O espírito vem merecendo o interesse até de cientistas que nem mesmo crêem em Deus. (...) A Parapsicologia vai se firmando com seus estudos e pesquisas, justamente em uma área que deveria estar em mãos dos espíritas.(...) Mas nós (espíritas) paramos no tempo...
“De nada vale repetirmos continuadamente que um dos aspectos do Espiritismo é o científico, se nada fazemos atualmente no campo da ciência!...”
Excelente!
Mais adiante, Lúcia Kfouri diz uma coisa muito certa: “ – Aquele que crê que o Espiritismo tem um aspecto científico (ou melhor: é uma Ciência, como afirmou Kardec) precisa compreender que Ciência não faz pré-julgamento e que cientistas honestos não comparecem a uma exposição ou lêem um livro com o espírito preparado para não aceitar.
“A Ciência tem como meta o conhecimento da verdade e, para tanto, utiliza-se de métodos baseados, primeiramente, na observação dos fatos, na análise das ocorrências, no estudo de opiniões e só no final dá seu parecer. O homem da ciência necessita, antes de mais nada, possuir mente aberta e, de forma alguma, pode permitir que lhe coloquem viseiras ou limites...”
E conclui seu brilhante artigo, dizendo: “ – O aspecto científico da Doutrina não pode ser esquecido, sob pena de vermos mais adiante o Espiritismo transformando-se em mais uma seita religiosa”.
NOSSO COMENTÁRIO
Concordamos, plenamente, com o que disse a ilustre professora Lúcia Amaral Kfouri. E devo confessar que foi com meu querido e saudoso pai, Severino de Freitas Prestes Filho, que aprendi a dar valor ao aspecto científico do Espiritismo ou Doutrina Espírita.
Tendo adquirido sua formação cultural de acordo com o método cartesiano de ensino e com os princípios da Filosofia Positiva de Augusto Comte, como Allan Kardec, meu pai também observava atenciosamente os fatos que se sucediam; analisava-os com critério científico, dentro da lógica e da razão; fazia comparações, levantava hipóteses; criticava de modo positivo as comunicações recebidas; contestava o que achava errado; argumentava, serenamente, apresentando provas... enfim, agia como um verdadeiro cientista espírita. E isto ele deixou bem claro em suas “Memórias”, que um dia serão publicadas, quando chegar o momento oportuno.
Tenho comigo gravações das sessões de estudo doutrinário e conversas realizadas em casa, quando muitos trechos e capítulos do seu livro foram lidos por ele, para que déssemos nossa opinião.
Isto um dia servirá de prova para confirmar o que estou dizendo agora.