A PAZ E A GUERRA – A CRUZ E A ESPADA
Este foi o título de uma palestra muito interessante que acabei de ouvir num centro espírita de Discípulos de Allan Kardec.
No desenvolvimento desse tema, a oradora se reportou primeiro à fase histórica antes de Jesus, dando ênfase à figura de Sócrates, que, por ter pregado a verdade, a justiça e o amor entre os homens, foi duramente perseguido pelos intelectuais da época e condenado a se matar, ingerindo a cicuta (veneno mortal).
Depois se referiu a Jesus, o Messias enviado por Deus à Terra para, não somente cumprir e desenvolver a lei divina consubstanciada nos Dez Mandamentos recebidos por Moisés (médium) no Monte Sinai, como também pregar o amor a Deus e ao próximo, inclusive aos inimigos; a paz entre os homens tanto no lar como na sociedade; o perdão das ofensas; a reconciliação entre os desafetos, homens e povos; a justiça social..., enfim, uma bela doutrina que Jesus nos ensinou, sendo como foi o tipo mais perfeito que a Providência Divina ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo. Por isso mesmo foi duramente perseguido pelos ricos e poderosos da época, os escribas e fariseus hipócritas, que o próprio Cristo combateu e que, por isso mesmo, o julgaram e condenaram ao suplício infamante, ou seja, à morte na cruz ao lado dos malfeitores.
A oradora não deixou de lembrar o caso histórico de Saulo de Tarso, judeu ortodoxo e cidadão romano que vivia combatendo os cristãos, tendo sido o principal responsável pelo apedrejamento e morte de Estevão. Todavia, depois de sua conversão, na estrada de Damasco, tornou-se defensor do Cristianismo e o Apóstolo dos Gentios. Por isso mesmo, foi preso, julgado e condenado à morte.
Depois, a palestrante se referiu às guerras consideradas santas, ou seja, as que eram declaradas em nome de Deus e da religião, citando como exemplo as famosas Cruzadas medievais, organizadas e chefiadas pelos próprios papas sob o pretexto de libertar Jerusalém do domínio dos turcos otomanos.
Finalmente, ela fez uma referência muito especial ao Espiritismo, doutrina que se apresenta sob três aspectos: ciência, filosofia e moral. Sim, Moral, já que na “introdução” do seu Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec, sob a assistência do Espírito de Verdade, deixou bem claro que, por não ter dado motivo a polêmicas, a controvérsias, foi a Moral evangélica que se tornou o objeto exclusivo de sua obra.
Para dar consistência à sua argumentação, a oradora citou os capítulos que recordam as bem-aventuranças ditas por Jesus no famoso Sermão do Monte, bem como os dois mandamentos: amar ao próximo como a si mesmo e amar aos inimigos.
Ao concluir sua palestra, ela fez referência à “estranha moral” que aparece no XXIII capítulo, que transcreve uma passagem dos Evangelhos de Mateus e de Lucas em que Jesus diz: “- Não vim trazer a paz, mas a espada...”, e “não vim trazer a união, mas, a divisão”.
E frisou bem: “Violência e desunião, isto é o que mais se vê nos dias atuais, apesar de tanto religiosismo, de tanto misticismo”.
É a pura verdade! Infelizmente!
NOSSO COMENTÁRIO
Acho que há dois pontos fracos na exposição acima.
Em primeiro lugar a oradora repetiu muitas vezes o nome de Jesus, mas não explicou aos ouvintes se se tratava do Jesus aparente (“corpo fluídico” ou “agênere”) dos docetistas e roustainguistas, ou do ser humano, de carne e osso como nós, ou seja o Homem de Nazaré, que Allan Kardec, o único e verdadeiro Missionário da Terceira Revelação, nos apresentou em sua última obra “A Gênese”, lançada em 1868.
Em segundo lugar, a oradora não fez nenhuma referência à divisão que surgiu dentro do movimento espírita, desde meados de 1866, quando o pedante, pernóstico e petulante Advogado de Bordéus, Dr. João Batista Roustaing, que aprendeu Espiritismo com Allan Kardec, como ele mesmo confessou, quis superá-lo, lançando ao público, à revelia do Mestre lionês, uma tal de “revelação da revelação”, ou seja, uma obra cheia de erros e absurdos que se intitula “Os Quatro Evangelhos”, adotada pela FEB.
E devia tê-lo feito, porque como muito bem disse Allan Kardec: “No Espiritismo não há mistérios...”