O saudoso confrade Prof. Deolindo Amorim, cujas palestras brilhantes muitas vezes ouvi no Instituto de Cultura Espírita do Brasil, do qual foi fundador e hoje é conhecido como a "CASA DE DEOLINDO AMORIM", em seu livro "ALLAN KARDEC", publicado pelo Instituto Maria de Juiz de Fora/MG, fez uma análise do querido Mestre de Lyon, focalizando: o homem, a época e o meio em que viveu, as influências que sofreu e a missão que desempenhou por determinação do Espírito de Verdade.
Assim se pronunciou o douto confrade:
"Antes de ser espírita, dedicava-se Kardec muito ao estudo do magnetismo, que estava, a bem dizer, em moda na França. E, já tinha obras publicadas como professor, já era portanto um nome feito, quando começou a interessar-se pelas comunicações dos Espíritos.
"... embora tivesse feito observações e experiências tão criteriosas como as de outros interessados nos problemas mediúnicos, ele pressentiu logo as consequências de tudo pelo seu agudo senso filosófico, pois atrás daquela fenomenologia, até então desconhecida em suas verdadeiras leis, embora observadas em todos os tempos, estava a explicação dos mais sérios problemas do Espírito humano."
"Allan Kardec também partiu dos fenômenos, mas assumiu uma atitude filosófica". "Começou em 1855, tendo trabalhado com mais de dez médiuns.
"A princípio ele pensou que o magnetismo poderia dar uma explicação total ou definitiva. Verificou, no entanto que certo tipo de fenômenos escapava às possibilidades do magnetismo.
"Homem do séc. XIX, século de profundas e agitadas discussões filosóficas, século em que se hipertrofiou muito o espírito crítico, Allan Kardec teve uma formação humana muito propensa ao raciocínio analítico, à controvérsia religiosa e filosófica. E entre outras doutrinas, que fizeram escola na época de Kardec, principalmente na França, podemos lembrar o Positivismo. o Evolucionismo, o ecletismo, sem falar no ceticismo, que invadia fortemente o pensamento das elites.
"Como intelectual, como homem de estudos filosóficos, vivendo em Paris, que era o maior centro de debates, Allan Kardec não poderia ficar absolutamente alheio às correntes doutrinárias de sua época. É aí, justamente, que se verifica o equilíbrio de Allan Kardec perante a crítica de sua obra. Como seria possível lançar uma doutrina tão diferente, como a Doutrina Espírita, que afirma a sobrevivência do Espírito fora da matéria e declara expressamente que Deus é a causa primária de todas as coisas, no ambiente europeu do séc. XIX? Allan Kardec não se deixou influenciar pelos antagonismos e sim manteve sua posição afirmativa, deixando a Doutrina inteiramente fora dos atritos".
Disse ainda Deolindo Amorim: "A Doutrina surgiu de um meio que não era muito receptivo, porque as elites estavam absorvidas por discussões filosóficas de caráter mais acadêmico, sob a influência ainda bem forte do pensamento cartesiano (...) Pois bem, apesar de haver encontrado um meio difícil, Allan Kardec cumpriu fielmente a sua missão. E se ele não tivesse demonstrado capacidade e firmeza, não tivesse sido humilde, mas conscientemente humilde, sem farisaísmo, não teria sido o instrumento inconfundível na grande Obra.".
"Allan Kardec cumpriu a sua missão, em tudo por tudo, viveu a vida de missionário da Causa a que se consagrou, mas nunca se apresentou como dono da verdade; jamais lançou condenações ou ensinou o desprezo do mundo. Foi um homem sociável, de hábitos simples, é verdade, sem querer aparecer como criatura diferente das outras, mas integrada na sociedade, ajustada aos costumes de sua época e de seu meio..."
E conclui Deolindo Amorim: "A glória de Allan Kardec, glória espiritual, sem auréolas humanas, permanece inabalável, porque é uma glória sem crepúsculo, uma glória que se nutre da riqueza do espírito e não se confinou nas limitações históricas. E, por isso mesmo, ele é hoje um sol que ilumina a humanidade pelos clarões do Espírito!"