Lançam, em seguida, uma série de perguntas que vamos repetir na íntegra: 1) Seriam reconhecidos os seus sinais? 2) Ele repetiria a si mesmo? 3) Na hipótese de trazer-nos uma contribuição substanciosa, como complementação doutrinária à Codificação, não seria tachado de mistificador, impostor, ou obsidiado? 4) Quem o aceitaria? 5) Quem admitiria uma contribuição desse tipo, de chofre, quer dizer, mediante um ou alguns livros para serem acrescentados ao Pentateuco kardequiano? 6) Ou de modificações do que neste se encontra? 7) É por isso que o continuador de Kardec não pode ser senão um ser coletivo...” (pág. 95)
Analisando-se bem a situação do mundo espírita brasileiro, desde janeiro de 1884, quando foi instalada a Federação Espírita (Roustainguista) Brasileira, fica evidente que não havia aqui clima favorável para o aparecimento de Allan Kardec reencarnado, porque: 1º) Os dirigentes da “Casa Mater” deixaram bem claro que não admitiriam jamais este fato; 2º) Por sua vez, fariam tudo para que ninguém o admitisse também; 3º) Nem havia muito o que fazer para que não acreditassem nele, porque, na opinião dos dirigentes da FEB, Kardec reencarnado não seria uma pessoa física, e, sim, um “ser coletivo”, ou melhor, uma pessoa jurídica, ou seja, a própria Federação Espírita (Roustainguista) Brasileira.
Por outro lado, admitindo-se a reencarnação de Allan Kardec, conforme anunciou o Espirito de Verdade, é claro que seus sinais seriam reconhecidos, não pelos roustainguistas, é lógico, que jamais o admitiriam, mas por espíritas que, reencarnados também, viriam para ajudá-lo no desempenho de sua nova missão, embora muitos nem soubessem de quem se tratava. Por isso acho mesmo que acertaram os dirigentes roustainguistas febeanos, quando afirmaram: “ – Só mais tarde, dará sinais da nova Missão”. Só que não precisaram quando isso iria acontecer.
É claro que, se o mestre lionês se apresentasse diante dos dirigentes supremos da FEB roustainguista, dizendo convicto: “ – Eu sou Allan Kardec reencarnado, conforme anunciou o Espirito de Verdade”, seria na mesma hora rechaçado, “tachado de louco, de obsidiado, de impostor”. O mesmo aconteceria também com o Espirito de Jesus, reencarnado num outro corpo humano, de carne e osso, não um corpo fluídico apenas, ao apresentar-se ao Papa no Vaticano, dizendo: “ – Eu sou Jesus de Nazaré. Voltei ao mundo, para lembrar aos homens que meu reino não é este que vocês fundaram na Terra com a ajuda dos césares romanos”.
Agora, admitir-se que Allan Kardec, reencarnado, repetiria tudo que fez, no séc. XIX, na França, como Codificador do Espiritismo e criador de uma nova Ciência, a Ciência Espírita, é um absurdo tão grande que só cabe mesmo na mente de pessoas tacanhas. Nem merece qualquer comentário de tão ridículo que é!
Mas, na verdade, não ficaram nisso os dirigentes da FEB. Foram mais longe em sua argumentação, acrescentando: “1º) Kardec pode ter reencarnado, não para ser seu continuador, mas para novas tarefas de grande magnitude, de interesse do Programa Crístico, até mesmo fora da área espírita; 2º ) Mas nesse caso, seria escorraçado com veemência pelos seus próprios “admiradores” e “discípulos”, como aconteceu com muitos Espíritos da época de Jesus, que reencarnaram posteriormente; 3º) De acordo com tão amplo contexto geral, Kardec pode vir e virá, mas, poderá não ser espírita, ou não ser famoso e admirado como profitente da nossa Doutrina, da Doutrina dele; 4º) Nem por isso estará fugindo ao cumprimento de relevantíssimas tarefas em benefício da regeneração da Humanidade inteira”.
Esta é muito boa! Admitir-se que Allan Kardec, reencarnado, poderia não ser espírita! Quá! Quá! Quá!...”, só rindo mesmo!
Agora, admitir-se que Allan Kardec, reencarnado, “poderia não ser famoso”, nem “admirado como profitente da Doutrina Espírita, da Doutrina dele”, isto é possível. Sim, porque, quem conhece a vida do grande Missionário lionês, sabe muito bem que ele jamais correu atrás da fama, nem nunca se preocupou em ser admirado como profitente da Doutrina ou seu fundador, pois sempre declarou que a Doutrina era dos Espíritos Superiores e não dele. A fama surgiu em decorrência do seu enorme trabalho, primeiro como professor, segundo como Codificador.
Da mesma forma se pode falar quanto à admiração que tinham por ele. Sim, todos o admiravam muito, inclusive J. B . Roustaing, que, em carta a ele dirigida, em junho de 1861, o tratou como “honrado chefe espírita”. Entretanto, ao lançar, à revelia de Kardec, “Os Quatro Evangelhos”, em maio de 1866, se transformou em um novo Judas e criou assim o primeiro grande cisma dentro do Espiritismo.
Na minha modesta opinião, e, baseando-me, é claro, no anúncio feito pelo Espírito de Verdade, em junho de 1860, Allan Kardec reencarnou, sim, para prosseguir seus estudos e suas observações. Desta vez não mais na França, e, sim, no Brasil, onde, desde o período colonial, se pratica o sincretismo religioso ou culto afro-brasileiro, que o Presidente da FEB, Sr. Wantuil de Freitas, classificou como sendo “Espiritismo, mas não Doutrina Espírita”. E, - o que é pior -, contou com o aval do padre Manoel da Nóbrega – leia-se Emmanuel – e do próprio Chico, conforme está no “Reformador” de julho de 1953. E isto foi tão vergonhoso e antidoutrinário que chegou a merecer mesmo severas críticas de José Herculano Pires, o “Apóstolo de Kardec”, como bem o definiu Jorge Rizzini. E, diga-se de passagem, a bem da verdade e da justiça, meu querido e saudoso pai e mestre, Severino de Freitas Prestes Filho, também ficou muito indignado, quando leu esse artigo, inserido nesse órgão de imprensa da FEB (Roustainguista).