ERASTO E ALLAN KARDEC
Em 15 de janeiro de 1861, Allan Kardec lançou “O LIVRO DOS MÉDIUNS”, em cujo cap. XX da segunda parte se lê: “... é melhor repelir dez verdades do que admitir uma só mentira, uma única teoria falsa”, instrução ditada por um Espírito que se identificou como sendo o de Erasto.
Essa proposição afirmativa foi repetida pelo mesmo Espírito, na Epístola que dirigiu aos espíritas de Lyon, a qual, a seu pedido, foi lida por Kardec, no banquete do dia 19 de setembro de 1861. (Ver R.E. de outubro de 1861).
Como se vê Erasto, pela mediunidade do Sr. d’Ambel, deixou bem claro que não se podia aceitar nenhuma mentira, nenhuma teoria falsa.
Na Epístola dirigida aos espíritas de Bordéus, que também, a seu pedido, foi lida por Kardec, na reunião promovida em sua homenagem, no dia 14 de outubro de 1861, o Espírito de Erasto, usando uma linguagem firme, forte, enérgica, incisiva, com a finalidade de incentivar os espíritas a lutarem não somente contra os materialistas, os orgulhosos, os egoístas, mas ainda e sobretudo “contra a turba dos Espíritos enganadores, embusteiros, falsos, hipócritas”, que “... não trepidam em usar nomes sagrados, para imporem suas mentiras...” deixou bem claro, ao determinar aos confrades: “... não temais desmascarar os embusteiros...”. Mas ele próprio reconheceu que exagerou muito ao usar uma linguagem tão forte, embora tivesse a certeza absoluta de que estava falando também em nome do Espírito de Verdade. Por isso ele procura se justificar, dizendo: “Tive que vos falar assim, porque era necessário vos premunir contra um perigo, que era meu dever assinalar...” (Grifo nosso)
A que perigo se referia Erasto? A resposta quem nos dá é o Dr. J. B. Roustaing, de Bordéus, que, no prefácio de “Os Quatro Evangelhos”, declarou que, em dezembro de 1861, foi induzido pelos Espíritos a ir à casa da médium, Mme. Collignon, de quem guardou ótima impressão, tanto assim que lá voltou, espontaneamente, oito dias depois. Foi então que a médium, caindo em estado de transe, recebeu um Espírito que estava ansioso por se manifestar. E foi esse Espírito que disse a Roustaing que tinha que publicar uma obra, que receberia o título de “Revelação da Revelação”, obra que, à revelia de Allan Kardec, foi preparada e lançada ao público em meados de 1866. Surgia assim aquilo que foi, na verdade, o pomo de discórdia, a dividir o movimento espírita desde o seu nascimento.
Esse é que foi o perigo contra o qual o Espírito de Erasto quis premunir os espíritas de Bordéus, pois, nessa mesma Epístola, que Allan Kardec leu, a pedido dele, na reunião do dia 14 de outubro, estava escrito: “... tudo farão para semear a divisão entre vós...”
E tudo fizeram mesmo, não resta a menor dúvida!
Resumindo, podemos, pois, afirmar que o Espírito que apareceu em abril de 1891, no Centro Espírita do Dr. Bezerra de Menezes, pela mediunidade do Sr. Sarmento Brito, não foi o luminoso Espírito, que se manifestou muitas vezes na Sociedade Espírita de Paris, ditando duas belas Epístolas dirigidas aos espíritas de Lyon e Bordéus, em 1861 e as Instruções sobre os “falsos profetas”, em 1862, que se encontram em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, cap. XXI, números 9 e 10, bem como a bela instrução ditada em Paris, em 1863, em que nos mostra qual é a “missão dos espíritas”. (O E.S.E. cap. XX, nº 4).
Allan Kardec, no cap. V da segunda parte de “O LIVRO DOS MÉDIUNS”, declarou algo muito significativo que vale a pena repetir: “A teoria do fenômeno dos transportes e das manifestações físicas em geral foi resumida de maneira notável, na seguinte dissertação de um Espírito, cujas comunicações trazem o cunho incontestável da profundeza e da lógica. (...) Ele se dá a conhecer com o nome de Erasto, discípulo de São Paulo...” (nº 98) (Grifos nossos)