RICARDO MACHADO
Disse Divaldo Pereira Franco: “Recebemos o Espiritismo das mãos imaculadas de homens e mulheres como Bezerra de Menezes, Anália Franco, Eurípedes Barsanulfo; de médiuns extraordinários como Frederico Junior, Ivone Pereira, Zilda Gama, Francisco Cândido Xavier; de apóstolos do conhecimento espírita aqui na Bahia, como José Petitinga, Manoel Philomeno de Miranda, o admirável Cel. Ricardo Machado, e tantos outros trabalhadores, que dignificaram a Doutrina e no-la entregaram ilibada, sem que enxertos e ideologias canhestras nela estivessem colocadas”. (Fonte: “Palavras de Luz” – 1ª edição – Lançada pela Federação Espírita da Bahia – Ano de 1993)
Fomos então ao livro “MEMÓRIAS HISTÓRICAS DO ESPIRITISMO NA BAHIA” de Lúcia Loureiro e encontramos a seguinte notícia: “Pouco se escreveu, nos meios espíritas, acerca dos dados biográficos de Ricardo Machado. Por isso são ignoradas as datas de seu nascimento e de sua desencarnação (...) Da sua personalidade e de sua vida, os jornalistas espíritas Alfredo Miguel e Aureliano Mota nos deram algumas informações, sendo que as professoras Rachel Nunes Ribeiro e Hildegardes Viana acrescentaram mais uns dados.” (op. cit. pág. 366)
“Como espírita, Ricardo Machado era seguro nos seus pontos de vista. Jamais se afastou do Kardecismo. Destacou-se no jornalismo espírita, publicando diversos artigos. Conferências e palestras fez muitas na União Espírita Baiana, na época de José Petitinga e no Instituto Kardecista da Bahia, do qual era um dos dirigentes. Muito se empenhou na criação do “Albergue Noturno” do referido Instituto”. (idem, pág. 368)
Ricardo Machado fundou e dirigiu um grupo espírita familiar, intitulado “Triângulo do Antonio”, freqüentado por notáveis espíritas e grandes médiuns.
“Ricardo Machado dedicou-se com amor e entusiasmo à Doutrina Espírita, e, principalmente, ao Instituto Kardecista da Bahia”, disse Lúcia Loureiro.
Por ser um intransigente defensor da pureza doutrinária, tornou-se célebre por ter-se envolvido em polêmicas com Souza do Prado. Este confrade, em uma conferência e em vários artigos, defendeu o roustainguismo, tendo mesmo publicado um folheto intitulado “Espiritismo, Kardecismo e Roustainguismo e a natureza do corpo de Jesus”. Ricardo Machado, rebatendo suas idéias, escreveu e publicou dois livros importantes: um, intitulado “Pontos de Vista à luz dos Evangelhos e da Ciência Espírita” e o outro, intitulado “Máscaras Abaixo”.
Fiz questão de focalizar esse grande vulto do espiritismo baiano, porque meu querido e saudoso pai, Severino Prestes Filho, então Major do Exército Nacional, em sua curta passagem por Salvador / BA, de janeiro a maio de 1938, quando exerceu o cargo de Prefeito Municipal, fez questão de conhecer o Instituto Kardecista da Bahia e o Albergue Noturno sob a responsabilidade do mesmo. Foi muito bem recebido por Ricardo Machado e todos os membros da Diretoria do Instituto. Teve então início entre os dois uma grande amizade, que durou anos e se prolongou mesmo depois que meu pai deixou a Prefeitura e a cidade de Salvador, por ter que servir em outras guarnições militares.
Por iniciativa do Ten. Raphael Uchôa, então Presidente do Grupo Espírita “Estrela de Jacob II”, esta instituição, em Assembléia Geral realizada no dia 17 de abril de 1938 prestou uma significativa e comovente homenagem a meu pai, concedendo-lhe o título de benemérito pelos serviços prestados ao mundo espírita baiano e ao Município de Salvador. Coube então ao Cel. Ricardo Machado, orador oficial da solenidade, falar em nome da Diretoria e do Conselho, dos sócios efetivos, dos convidados e das autoridades presentes. Em seu eloqüente discurso, ele assim se referiu a meu pai: “ Por fim e em boa hora teve a Bahia de possuir, infelizmente por pouco tempo, como Prefeito desta Capital, o Major Severino Prestes Filho, que, visitando o Instituto Kardecista e, demorando-se em louvável observação ao Albergue, à noite, veio em auxílio às dificuldades do Instituto, como fizera de boa vontade a outras instituições desta capital, sendo de fato em tão pouco tempo um benemérito” (Ver o Relatório da Diretoria do Grupo Espírita “Estrela de Jacob II”, citado por mim, na biografia de meu pai e mestre, Severino de Freitas Prestes Filho, págs. 223 e 224).
A troca de correspondência entre meu pai e esse grande paladino do ideal espírita, radical defensor do verdadeiro Espiritismo e intransigente crítico do roustainguismo, durou anos. Mesmo estando servindo no Rio de Janeiro, como Oficial de Gabinete do Ministro da Guerra, depois, como Comandante do 2° Regimento de Cavalaria, em Pirassununga / SP e, posteriormente, em Niterói / RJ, eles se comunicaram por carta ou por telegrama.
Em 3 de novembro de 1948, escrevendo para Antonio Gonçalves Vianna, também um grande amigo que deixou em Salvador, meu pai declarou: “Muito me alegra o saber que já se acha restabelecido o nosso querido Cel. Ricardo Machado. Creio que houve qualquer extravio de correspondência, pois lhe escrevi depois que recebi a carta em que ele me contava os pormenores da insidiosa doença e das grandes provanças que experimentou. Não importa. Vou escrever-lhe umas linhas, pois faço questão de cultivar a amizade desse grande confrade”. (Cópia da carta em meu poder).
Ficam aqui as nossas sinceras homenagens póstumas a esse grande vulto baiano do movimento espírita e incansável batalhador em prol do verdadeiro Espiritismo que foi Ricardo Machado.